Há 50 anos, o estágio nascia no Brasil, com a instalação do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), uma organização não governamental pioneira, com perfil diferenciado e objetivo claramente definido. Além disso, tão sintonizada com as necessidades do País que, até hoje, só faz crescer e ampliar suas iniciativas em favor do desenvolvimento nacional. Com sábia visão, os fundadores – um grupo de empresários, educadores e representantes da sociedade civil – logo perceberam que o sucesso da empreitada dependeria de uma delicada arquitetura, para não só sensibilizar como envolver todos os atores participantes da iniciativa de introduzir no Brasil o instituto do estágio. Até então essa era uma inédita modalidade de qualificação de mão de obra, praticamente desconhecida por aqui, que consistiria em aliar o ensino acadêmico à prática no mundo real do trabalho, a fim acelerar a formação de profissionais mais qualificados, aptos a atender à demanda de uma economia que rapidamente crescia e se modernizava.
Para preencher seus objetivos, o estágio deveria contribuir para solucionar três problemas. Numa primeira vertente, reforçaria a empregabilidade dos estudantes, cuja formação carecia do complemento da experiência prática para atender às demandas de um mercado de trabalho que vinha se sofisticando desde a fase desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, com seu slogan “cinquenta anos em cinco”. Num segundo ângulo, surgia como um eficaz caminho para que as empresas recrutassem, treinassem e selecionassem novos talentos que dariam, a curto prazo, suporte adequado a seus planos de expansão. Finalmente, com visão de futuro, os fundadores miravam na qualificação permanente do capital humano do País, que nasceria da integração entre a escola e a empresa, como uma das condições indispensáveis para dar sustentabilidade a uma era de desenvolvimento socioeconômico.
A proposta encontrou, já de início, ressonância nos principais círculos envolvidos com a formação profissional dos jovens. Os primeiros encontros de trabalho contaram com a presença de representantes de estudantes, de empresas e de universidades, numa expressiva antecipação do papel aglutinador que o CIEE desempenharia nos anos seguintes. Com o tema “Estágios de aprendizagem – Habilitação de estudantes”, um ciclo de debates e reflexões durou quase um ano e meio. Numa medida da seriedade com que o tema foi tratado e do interesse que despertou, fotos da época mostram plateias lotadas nos auditórios cedidos pelo Instituto de Educação Caetano de Campos e pela Fiesp.
Ao completar meio século de atuação ininterrupta, sempre sem receber qualquer repasse direto dos cofres públicos (como, aliás, preconizavam os fundadores), o CIEE se orgulha dos números que colecionou: 13 milhões de jovens encaminhados para o mercado de trabalho, 28 mil instituições de ensino conveniadas e 250 mil empresas e órgãos públicos parceiros. Atento a seu papel como referência entre as entidades de assistência social e de filantropia, o CIEE continua empenhado em atenuar as desigualdades que ainda persistem no País, apesar dos avanços ocorridos nessas cinco décadas. Por exemplo, visando assegurar a empregabilidade jovem, há dez anos aderiu à causa da aprendizagem, apoiando a acertada meta presidencial de oferecer formação profissional a um milhão de jovens de 14 a 24 anos até o final de 2015.
Esse olhar para o futuro, com os pés na realidade atual, leva o CIEE a manter uma rede nacional de 350 pontos de atendimento e de quase 1,5 mil salas de capacitação teórica para aprendizes. E também a dar continuidade a um programa de alfabetização de adultos que já beneficiou mais de 50 mil alunos; a oferecer cursinho gratuito para vestibular a 500 estudantes da periferia de São Paulo; a disponibilizar na internet um programa de cursos à distância, com mais de 2 milhões de matrículas em sete anos; a abrir oportunidades de estágio e aprendizagem num programa especial para jovens com deficiência; de entre outras iniciativas.
Mirando à frente, mas mantendo um olho no retrovisor para verificar os acertos e os erros, nos próximos anos o CIEE continuará honrando o compromisso de atuar como a casa dos jovens, para auxiliá-los a vencer o desafio de ingressar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e para o qual não foram adequadamente preparados pela escola e, em muitos casos, nem pela família. Por essas e muitas outras razões, o CIEE continuamente reafirma sua adesão cidadã à sábia disposição do artigo 203 da Constituição Federal que inclui entre os objetivos da assistência social – “que será prestada a quem dela necessitar” – a promoção da integração ao mercado de trabalho. Para tanto, sempre apostou e continuará apostando na força da educação e do trabalho como os melhores caminhos para um futuro próspero, igualitário e sustentável para mais e mais brasileiros.
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Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo
São Paulo, 20 de fevereiro de 2014 (página 2)