“É com a educação que o homem conquista a sua humanidade”. Essa frase resume o espírito do pronunciamento do ex-ministro e economista Delfim Netto ao receber o 16º Prêmio Professor Emérito/Troféu Guerreiro da Educação 2012 na manhã do último dia 15 – evento com que o CIEE comemora anualmente o Dia do Professor. Passando a integrar a galeria de reconhecidos guerreiros da educação, como Ruth Cardoso, Miguel Reale, Paulo Nogueira Neto, Crodowaldo Pavan, Ives Gandra da Silva Martins, Angelita Habr-Gama, entre outros, Delfim foi escolhido por sua produtiva vida acadêmica. Ele abriu novos caminhos para o estudo e aplicação das ciências econômicas; formou gerações de brilhantes economistas; e introduziu critérios analíticos no planejamento e execução de projetos econômicos, entre outros legados. Aliás, legado que ainda não está completo, pois Delfim continua influente na vida econômica nacional, já que generosamente distribui seus profundos conhecimentos e larga experiência em artigos, palestras e consultorias.
Seu pronunciamento constituiu uma verdadeira aula de economia, iniciada com uma aguda percepção do valor do estágio para a formação integral dos futuros profissionais. Vendo no estágio “um verdadeiro rito de passagem, no qual o portador do conhecimento é transformado no instrumento de promoção de sua prática”, Delfim reconhece o papel integrador do CIEE, que reduz os atritos e harmoniza o encontro entre as empresas e os talentos gerados na escola. Classifica, ainda, como de máxima importância outras funções da entidade. A primeira, “dar oportunidade para que talentos com uma ou outra deficiência encontrem a sua identidade dentro da sociedade e se integrem a ela, sem o que jamais poderiam sentir-se úteis e exercer plenamente sua cidadania”. A segunda, “ampliar o horizonte dos jovens, explorando visões alternativas do futuro das profissões, elemento essencial na escolha da orientação que influenciará toda a sua vida”. Finalmente, “a importância do CIEE é ainda maior porque dando uma formação humanística a seus estagiários previne as graves consequências do empobrecimento do homem pela divisão do trabalho”, marca atual da forte especialização das atividades produtivas.
Delfim passeou, com desenvoltura, pelas teorias da área que domina como poucos, enfocando as complexas relações entre educação e economia, que considera profundas e decisivas para o processo de desenvolvimento e para paz social, por diminuir a distância entre os homens e tornar as sociedades mais prósperas e menos desiguais. A trajetória do Professor Emérito 2012, título concedido anualmente pelo CIEE em conjunto com o jornal O Estado de S.Paulo, é um exemplo do poder da educação para a superação de obstáculos, válido em âmbito tanto pessoal quanto da sociedade. Filho de uma família paulistana relativamente pobre, trocou o sonhado curso de engenharia pela recém-criada Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, pois não poderia estudar em período integral. Em vez de um futuro engenheiro frustrado, a escola ganhou um entusiasmado aluno, que se dedicou aos estudos com tal afinco e talento que, em poucos anos, assumiria o posto de professor assistente, conquistaria a livre-docência e seria o primeiro ex-aluno a chegar a catedrático, na cadeira de teoria do desenvolvimento econômico.
A entrega do Prêmio Professor Emérito é sempre um momento de reflexão sobre os rumos da educação brasileira, ainda de péssima qualidade, apesar de recentes avanços. Essa reflexão se torna mais oportuna, ainda, no momento em que tramita o projeto de lei que eleva para 10% do PIB os recursos obrigatórios a serem aplicados no ensino público. Focando apenas um aspecto, vale perguntar se o simples reforço financeiro será suficiente para eliminar as crônicas e agudas deficiências da educação brasileira. Na nossa visão, escorada em meio século de convivência com os estudantes e suas dificuldades de acesso ao mundo do trabalho, a resposta é negativa. O gargalo educacional, que provoca a mais perversa das desigualdades, somente será erradicado com uma profunda revolução no ensino que, entre os muitos nós a desatar, passaria pela profunda reestruturação do ensino médio, pelo ajuste da sintonia entre academia e as demandas estratégicas do país; pelo resgate do papel do professor e sua formação; pela ênfase na adequada gestão escolar; pela redução da interferência política no preenchimento dos cargos. Em resumo, pela adoção de uma política pública de educação voltada efetivamente para o interesse maior da sociedade.