Promessas, projetos e alternativas
No último dia 31 de janeiro/2012, publiquei artigo de minha autoria sob o título “Promessas e bola de cristal” no jornal Diário de São Paulo. Ao final, citei alerta contido em estudo de autoria de Renata Altenfelder Garcia Gallo, integrante do Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária (IEL / UNICAMP) sobre o conceito de liberdade em “A República”, de Platão e “A Utopia”, de Thomaz Morus. Após a análise do conceito de liberdade nas duas obras, é possível observar que para ambas a cidade livre e o sujeito livre só podem existir por meio de uma educação rigorosa em relação ao controle dos desejos e paixões que torna o homem “senhor de si”. Em outras palavras, previsões e promessas não devem ser consequencias de idéias utópicas. Pressupõe sólidos conhecimentos da matéria e, portanto, da ciência da Educação
Renata Altenfelder Garcia Gallo, minha neta, comentando o meu artigo, enviou-me as considerações sob o título “Promessas, projetos e alternativas” que a seguir transcrevo:
* Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE e da Academia Paulista de Letras Jurídicas – APLJ
“Em seu artigo “Promessas e bola de cristal”, publicado em 31 de janeiro, Ruy Martins Altenfelder Silva retoma algumas ideias de meu artigo intitulado “Estudo sobre o conceito de liberdade em “A República”, de Platão e “A Utopia”, de Thomas Morus” (Onze vezes Utopia, Estudos comparados, Publicações IEL/Unicamp, p.125) a fim de mostrar ao leitor a importância da educação para projetos políticos concretos e efetivos.
Tanto na ilha ficcional criada por Morus, a Utopia, quanto na cidade criada por Platão, a Politeia, a preocupação com a educação é notável, é só a partir dela que o sujeito e a cidade livre podem existir.
Essa educação que auxilia no processo de consolidação de um ambiente livre e justo possui um denominador comum tanto em Morus quanto em Platão: o sujeito deve reconhecer o seu papel na comunidade.
Assim sendo, a educação é pensada de modo que os interesses do indivíduo estejam subsumidos aos interesses da comunidade. Diz Sócrates, personagem de “A República”, que todos os cidadãos devem, desde pequenos, serem orientados no sentido de serem úteis à cidade. Para tanto, são eles guiados de acordo com suas habilidades e humores para que possam realizar suas plenas potencialidades no ambiente onde vivem.
Como professora, não posso ignorar a herança deixada por Morus e Platão no que tange à educação. Ao observá-la, bem como ao conviver com esta no meu dia-a-dia, percebo que rumamos a um cenário desanimador: alunos cada vez menos interessados, professores cada vez mais estafados (decorrente dos baixos salários), condições ruins de trabalho, dentre diversos outros fatores que notamos no cotidiano da educação brasileira.
Ao me deparar com este contexto, trago as ideias de Platão e Morus acerca dos projetos educacionais de suas utopias à minha reflexão. Penso que o projeto educacional que vigora em nosso país não permite ao aluno nenhum tipo de identificação ou reconhecimento do indivíduo na sociedade, o que leva a um desinteresse do sujeito por qualquer projeto coletivo que venha a ser proposto na e para a sociedade. Entrementes, este desinteresse não é culpa daquele aluno fruto de um projeto pedagógico que não visa e não representa a totalidade e os interesses da coletividade, senão os interesses do Estado.
Assim, novamente recorro a Morus e Platão e proponho: qualquer projeto educacional eficiente deve ser pensado na e para a comunidade, para o bem-estar coletivo. Só assim teremos sujeitos livres, justos e capazes de realizar plenamente suas potencialidades no mundo em que vivemos”.
* Renata Altenfelder Garcia Gallo é mestranda do departamento de Teoria Literária da Unicamp (IEL) e professora de língua portuguesa
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