Artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo
São Paulo, 22 de fevereiro de 2013 (página A3)
A um ano da comemoração de meio século de atividades voltadas à inserção profissional e cidadã do jovem, o CIEE inicia um profundo mergulho em seu passado. Tanto para avaliar, com a peneira fina do tempo, a efetividade dos resultados que alcançou quanto para, a partir da releitura de sua história, planejar os rumos de sua futura atuação na perspectiva do século 21. Em 20 de fevereiro de 1964, o CIEE foi fundado por um grupo de empresários e educadores, com o objetivo de superar o fosso entre a formação acadêmica e a realidade do mercado de trabalho. Inspirados em exemplos de países desenvolvidos, eles elegeram o estágio como a modalidade mais eficaz para complementar, com a prática em ambiente real de trabalho, a formação eminentemente teórica dos estudantes.
Ao longo desses 49 anos, o estágio conquistou a adesão maciça das escolas e das empresas, que hoje enriquecem o balanço histórico do CIEE com os expressivos números de 28 mil instituições de ensino conveniadas e 250 mil empresas e órgãos públicos parceiros na oferta de vagas a estagiários. Nesse meio século, a riqueza do País se multiplicou, mas também persistiu a desigualdade da distribuição de renda e do acesso à educação. O CIEE acompanhou – e continuará acompanhando – as duas curvas, com a visão de uma organização presente em todos os estados, com uma rede de 350 pontos de atendimento e 1,2 milhão de jovens cadastrados, à espera de uma oportunidade de estágio ou aprendizagem.
Consciente de seu papel como referência entre as entidades de assistência social de filantropia, o CIEE há mais de duas décadas vem reforçando seu lado escola, buscando compensar as crescentes deficiências do ensino brasileiro, que penalizam especialmente os jovens de famílias menos favorecidas. Mas o olhar para o futuro esbarra em outra preocupação: as últimas estatísticas do IBGE apontam que, na faixa dos 15 aos 17 anos, 15% dos jovens não estudam e 97% não trabalham – números que deram origem à expressão “geração nem-nem”. Sem o preparo adequado, qual será o destino deles? Provavelmente, boa parte engrossará o contingente de excluídos e marginalizados.
Foi esse cenário que, há dez anos, levou o CIEE a aderir à causa da aprendizagem, que visa dar formação social e profissional a jovens de 14 a 24 anos, combinando treinamento prático nas empresas e órgãos públicos com capacitação teórica, ministrada na rede de 1,4 mil salas que mantém em todo o País, além de desenvolver um programa especial para inclusão de pessoas com deficiência. E a dar continuidade a um programa de alfabetização e suplência de adultos, que já beneficiou mais de 50 mil alunos. E, ainda, a oferecer cursinho gratuito para vestibular a 500 estudantes da periferia de São Paulo, em parceria com entidades locais.
Nos próximos anos, o CIEE continuará a ser o grande parceiro dos futuros profissionais no desafio de ingressar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e para o qual não foram adequadamente preparados pela escola e, em muitos casos, nem pela família. No CIEE, o estudante e sua família encontram gratuitamente todo o apoio para a inclusão profissional. São dezenas de cursos presenciais e à distância, formatados para estimular competências e habilidades essenciais para a conquista e ótimo aproveitamento de oportunidades de estágio e aprendizagem. Todas devidamente remuneradas, permitindo que milhares deles custeiem seus estudos e auxiliem no orçamento doméstico sem ter de sair da escola, deixando, assim, de engrossar as tristes taxas de evasão que marcam o ensino no Brasil. Além disso, integram a programação de ações de desenvolvimento pessoal e inclusão social, um alentado calendário de eventos culturais e artísticos; iniciativas de voluntariado solidário; um cursinho gratuito que prepara jovens da periferia paulistana para o vestibular; encontros de pais e alunos da aprendizagem; prêmios para estimular o gosto pela leitura e a escrita; etc.
Por essas e muitas outras razões, o CIEE adotou como lema a sábia disposição do artigo 203 da Constituição Federal ao incluir entre os objetivos da assistência social – “que será prestada a quem dela necessitar” – a promoção da integração ao mercado de trabalho. Para tanto, sempre apostou e continuará apostando na força da educação e do trabalho, como os melhores caminhos para um futuro próspero e sustentável para mais e mais brasileiros.