Conheci Enrique Sueiro lendo um interessantíssimo artigo assinado por ele no jornal El País enquanto morava em Madri. Quando vi que era um professor da Universidade de Navarra e especialista em Comunicação Biomédica, meus alarmes soaram e disse a mim mesmo que deveria conhecê-lo o mais rápido possível. Com mais de 20 anos atuando na Comunicação Corporativa, jamais havia ouvido falar em comunicação biomédica e precisava saber o significado disso. Não pensei duas vezes: liguei para um grande amigo, Navarro, que mora em São Paulo, e pedi que me ajudasse a intermediar um encontro. Tinha certeza de que ele poderia me ajudar, pois é jornalista e formado na mesma universidade onde o professor lecionava.
Passaram-se dois dias e meu telefone tocou. Era Sueiro. Ele já havia falado com meu amigo e gentilmente se colocou à minha disposição para uma conversa pessoal. Não seria complicado, já que ele visitava frequentemente a capital do país. Conversamos sobre o conteúdo de seu artigo, discutimos alguns pormenores e ficamos de nos encontrar algumas semanas depois, quando viria para uma série de palestras.
Naqueles dias fazia um frio glacial. Marcamos a reunião em um conhecido restaurante especializado em fabada, um prato tradicional da região das Astúrias feito com feijão branco. Entre uma colherada do cozido e uma taça de vinho, acabamos conversando por quase três horas, e fiquei com a nítida impressão de que o almoço valeu um diploma. Sueiro é daqueles acadêmicos que vivem as histórias que contam e fazem as analogias mais incríveis. Pensei que iria encontrar um senhor de barba branca, sapiência de guru e bengala, mas vi um jovem mestre – um cara da minha idade, mas com um conhecimento acadêmico monstruoso. Por mais que eu tenha aprendido comunicação na escola e na vida, ali Enrique Sueiro era Obi-Wan Kenobi e eu era o seu Padawan. Pensava de que maneira poderia estar sendo útil ao professor e o que minhas experiências poderiam ajudá-lo, afinal em uma boa rede de relacionamento é preciso existir uma troca. Ao fim do encontro, foi muito generoso comigo. Ficou especialmente surpreso com a qualidade da comunicação corporativa no Brasil e lhe dei muitos argumentos que sustentavam sua tese. Nesse almoço e em muitos outros que vieram depois, ficou claro que ele também estava muito interessado nas coisas que aconteciam dentro das empresas, laboratório de seus experimentos e teses.
Uma delas fala sobre as patologias da comunicação. Peter Drucker chegou a mencionar que 60% dos problemas de uma empresa advêm da qualidade da comunicação que se faz nelas e, mais importante do que isso, das consequências que ela gera nas pessoas. De acordo com Sueiro, que também cita o pensador Javier Fernández Aguado ao escrever sobre o tema, é necessário criar terapias para as doenças relacionadas à comunicação porque, de uma maneira ou de outra, as empresas são feitas de pessoas e, portanto, reagem como elas: pensam, sentem, criam expectativas, crescem, adoecem e, se não se curam, morrem. Como bem comentou, o problema não é ter problemas, mas sim que atitude devemos ter para solucioná-los.
Enrique Sueiro relaciona a comunicação feita nas empresas com as reações químicas e biológicas provocadas por ela nas pessoas. Quando isso entra nas discussões comunicacionais é sinal de que algo novo começa a aparecer para ajudar-nos a entender a complexidade da Comunicação Corporativa.
Em meu próximo artigo, prometo transcrever na íntegra o artigo que Enrique Sueiro escreveu e que mudou muito a maneira com a qual passei a enxergar as soluções para a gestão da comunicação nas organizações.