A corrente da produtividade
Inovação e produtividade não é tema para o futuro, é para ontem. Para iniciar este artigo, tomo emprestado o mote de oportuno seminário que reuniu, em junho, vários especialistas, lotando a plateia do Teatro CIEE, em São Paulo. Na abertura do encontro, utilizei a recorrente comparação entre a situação do Brasil e da Coreia do Sul, que há quatro décadas emplacavam índices muito próximos de produtividade e inovação.
Hoje, passados 40 anos, um curto lapso de tempo no relógio da história, a Coreia revolucionou sua economia e ocupa postos de liderança na florescente economia asiática. Assim, transformou-se numa referência, sempre ditada, daquilo que o Brasil poderia ter feito, mas não fez, para alavancar seu desenvolvimento. Nas últimas três décadas, o país alcançou altas taxas de crescimento, criou empregos e engordou sua classe média. Mas desde os anos 80 mantém estagnado, em nível muito baixo, o estratégico indicador de produtividade: ocupa a 75ª posição no ranking mundial que reúne 122 países. Trocando em miúdos, isso significa que, saindo de uma relação PIB/pessoal ocupado parelha, atualmente o trabalhador coreano produz quatro vezes mais do que seu colega brasileiro.
Vamos a outro aspecto preocupante. O Brasil também engatinha no quesito inovação, um dos pilares da produtividade. Segundo a consultoria Booz & Company, os investimentos anuais em pesquisa e desenvolvimento cresceram perto de 6% entre as empresas mais inovadoras do mundo. Enquanto isso, por aqui houve uma retração de 18% entre 2012 e 2013, com investimentos na casa de 3 bilhões de dólares. Resultado: o 54º lugar numa lista de 75 nações, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseados em dados de 2010.
Esse dois fortes gargalos são atribuídos a uma longa série de causas, a começar pela reconhecida precariedade da educação e pelas deficiências da formação profissional. A essas, somam-se o baixo empenho de empresas e governo; o descolamento entre a pesquisa acadêmica e o universo da produção; o custo e a burocracia envolvidos na obtenção de patentes; a evasão dos cérebros que buscam oportunidades mais atraentes em outros países; a inexistência de estímulos para que os jovens se voltem à criação e à pesquisa, pois são raras as universidades que buscam despertar nos alunos a inquietude e a visão para o empreendedorismo de ponta. E por aí vai.
Em contraponto a esse cenário negativo, existem marcos animadores que sinalizam para o potencial brasileiro de inovação: as aeronaves da Embraer; os motores a biocombustível; a Petrobras, com exploração em águas profundas; a Embrapa que fez do cerrado a área responsável por 63% da produção nacional de soja; e o case interessante da One que, ao colocar água de coco em caixinha, vem batendo de frentes com gigantes do mercado de bebidas hidratantes, como a tradicional Gatorade.
Acrescente-se a eles alguns dados internacionais e ficará clara a urgência tanto de uma política pública para a área de pesquisa e desenvolvimento quanto maior empenho das empresas em patrocinar a busca de inovações aplicáveis à indústria e ao comércio. Desde os anos 1990, não só os países desenvolvidos superam o Brasil em inovação científica e tecnológica, mas nações emergentes registram invejáveis avanços, graças a investimentos pesados em educação e ao planejamento de sistemas dinâmicos que os colocam em condições de concorrer com as grandes potências, que também não estão dormindo em berço esplêndido. Nos Estados Unidos, enquanto cai o investimento governamental em P&D (principalmente na área da defesa), as indústrias, universidades e fundações aumentam as verbas para esse fim. Na China, em que pesem as controvérsias sobre a originalidade de patentes, o governo concede incentivo fiscal para investimentos em pesquisa e prêmios em dinheiro para inventores, entre outros estímulos. E até a Europa, às voltas com longa crise, parece não ter cortado os recursos para essa área.
Embora não possa exibir diferenciais como os da Coreia do Sul, Taiwan, China e Cingapura, com seus 16% de crescimento no número de pesquisadores, o Brasil conta com boa quantidade desses profissionais e de artigos científicos publicados. Mas é preciso corrigir os muitos gargalos, não apenas na elite da inovação. A bandeira, vale sempre destacar, é defendida pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) desde sua fundação há meio século, quando iniciou uma eficaz trajetória dedicada à disseminação do estágio e da aprendizagem como eficientes modalidades de formação profissional de qualidade e alinhada à realidade do mundo do trabalho. Afinal, para assegurar ganhos saudáveis de produtividade é preciso qualificar toda a cadeia de capital humano, da base ao topo.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense
Brasília, 02 de julho de 2014 (página 11).
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