As interações e os relacionamentos sociais têm passado por um processo de transformação radical em que o resultado contradiz com aquilo que esperamos e, mais do que isso, que desejamos no contato com as pessoas. Embora a pressa seja inimiga da perfeição, urge prestarmos atenção em comportamentos básicos e em regras de convivência que o tempo está fazendo questão de levar e fazer-nos esquecer. A problemática é mundial, mas há um processo em andamento entre os brasileiros que descola as atitudes atuais de traços culturais tão característicos de sua história. Não me refiro, talvez, à relação entre amigos ou mesmo à vida no campo, mas a uma síndrome típica do cotidiano urbano, em um contato na rua, no trânsito, no cinema, ao telefone, em qualquer lugar. Estamos mais intolerantes e desconfiados e isso obviamente não cria nenhuma harmonia.
Sobram exigências e expectativas por parte de todos nós, mas também pululam frustrações e impotência ao não vê-las serem cumpridas. A continuidade dessa sistemática vai criando um parafuso sem rosca porque, ao mesmo tempo em que há uma percepção comum de que a relação entre as pessoas está mais fria e egoísta, por outro pouco estamos fazendo para mudá-la.
Se a era da contemplação já era, isso se deve, em grande parte, à incompetência que temos tido de decodificar uma série de benefícios que o progresso e a tecnologia nos trazem. Por um lado o conforto e a produtividade cresceram, mas por outro estamos obcecados por fazer mais em menos tempo, nos equivocando apenas em um detalhe: nem sempre o que estamos fazendo é necessário, ou melhor. Estamos mais conectados do que nunca e desde que a convivência passou a se chamar networking e as empresas passaram a abrir novos canais de comunicação com seus clientes, passamos a produzir mais e mais oportunidades de contato. Há de se imaginar que as relações humanas, por consequência, passaram a ser mais frequentes, o que, em teoria, dariam uma boa prosa. Mas será mesmo que a qualidade da comunicação cresceu na mesma proporção?
Não faria sentido apresentar o problema sem ao menos arriscar uma solução e ela, seguramente, passa por aspectos conhecidos. Atitudes que vem do berço estão sendo deixadas pelo caminho porque a educação está se perdendo na casa e o ensino está se perdendo na escola. Os “por favores”, os “obrigados”, os “com licenças”, os “vocês primeiros” não devem ser vistos como um protocolo social, mas como uma atitude legítima e espontânea pela crença de que estamos tratando de uma senha e uma célula de sobrevivência e, por que não dizer, de satisfação e felicidade. Falamos do respeito que as pessoas merecem umas das outras. Portanto, a comunicação precisa, mais do que uma mensagem e dois personagens, precisa de uma atitude em prol do bem comum.
Está na hora de olhar pelos olhos dos demais. A perspectiva do outro deve ser levada em conta, ainda que ela não esteja de acordo com aquilo que pensamos. Até porque o outro pode ter razão. Falta escuta, sobra discurso; falta conversa, sobra rispidez e mau humor; falta gentileza e cordialidade. A exigência do aqui e do agora está nos distraindo em relação às pessoas.
É aqui que deve entrar a afetividade tão em falta na relação do eu e do outro. A mesma que recebemos em nossos primeiros anos de vida através da oxitocina produzida no corpo de quem nos gera. O hormônio da confiança que fortalece a relação entre mães e filhos deve ser gerado, ainda que artificialmente, em qualquer interação, e deve ser visto com a mesma importância que a adrenalina na hora do prazer e a serotonina na hora do relaxamento. Sem isso, a vida não produz nada de bom. Preocupe-se mais com os demais e você estará preocupando-se também com você. O contrário já não é verdadeiro. A comunicação afetiva nada mais é do que a construção de diálogos em alto nível onde o conteúdo importa menos do que a forma.