Estudos Aberje 1

     

 
  

 

 

 

MAURO SALLES
Jornalista e publicitário, presidente do Conselho da agência Salles/DMB&B Publicidade, conferencista convidado de diversas instituições superiores de ensino, membro do Conselho Curador da Fundação Getúlio Vargas e membro do Conselho da AACD, entre outras atividades. Palestra proferida em 14.5.97.
Apontamentos sobre
a Imagem do Brasil

  

É  muito oportuna a preocupação da Aberje em alimentar o debate de idéias sobre a imagem do Brasil, no país e no exterior. Não sei quantas vezes, como diretor de agência e como profissional de propaganda, terei sido, sempre na undécima hora, chamado a dar resposta a uma pergunta crucial: "O que é possível fazer para consertar a imagem do Brasil?"

Na área oficial, o principal problema dessa repetida pergunta é quase sempre sua origem: às vezes, o pedido vem da área mais ligada ao turismo, o Ministério da Indústria e Comércio, Embratur ou secretarias estaduais de Turismo; outras, da área do comércio exterior (de novo o Ministério da Indústria e Comércio). Ora a solicitação se origina em áreas políticas, principalmente a Presidência da República, ora ela nasce da área do sistema financeiro, e aí entra o Ministério da Fazenda. No fundo, logo se percebe hoje, como ontem, uma grande ciumeira. Afinal de contas, e do ponto de vista do governo, quem é o dono da imagem do Brasil? As respostas são variadas:

– Bem, esse negócio de imagem, é claro que tem de ser do Ministério da Indústria e do Comércio...

– Não, tem de ser do Ministério das Relações Exteriores!

– Não, não é isso: é a Presidência da República que cuida da imagem do país, lógico!

Quase sempre estávamos diante de dois desconhecimentos: primeiro, o que é de fato a imagem do Brasil; segundo, como se trabalha uma imagem – não só do Brasil, mas qualquer imagem. Saliento que essas questões estão provocando uma nova postura do Itamaraty, em função das pressões de fora para dentro exercidas por vários embaixadores brasileiros que enfrentam problemas no Exterior. E cito alguns deles: o embaixador Marcos Azambuja, hoje em Paris; o embaixador Rubens Barbosa, hoje em Londres; o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, em Washington; e o embaixador Rubens Ricupero, atual secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Eu diria que esses quatro são os que, no Itamaraty, mais pressão fizeram e continuam fazendo, de fora para dentro.

Em junho de 1993, por meio de uma portaria do ministro Celso Amorim, então à frente das Relações Exteriores, o Itamaraty criou um Grupo de Trabalho sobre a Política da Divulgação da Realidade Brasileira no Exterior. Esse grupo partia do seguinte diagnóstico: a necessidade de reforçar a dimensão da diplomacia pública na política externa, dentro e fora do país, recomendando que fosse ampliada, sistematizada e agilizada a divulgação de informações sobre o Brasil e sua política de relações exteriores.

Havia ali todo um projeto de trabalho. A partir da criação desse Grupo, várias coisas positivas aconteceram enquanto outras aconteceram a menor do que se imaginava. A começar pela chamada "preliminar de marketing", quase sempre desconhecida pelos nossos interlocutores. Na verdade, o que procura qualquer esforço de marketing senão traçar o melhor caminho entre quem oferece bens ou serviços (seu produtor ou vendedor) e quem precisa desses bens ou serviços – o consumidor ou usuário real ou potencial? Quando se transfere isso para os Estados, na moderna economia e na moderna política, o país que oferece essas perspectivas de marketing não é mais limitado pelo seu território, nem apenas pelo seu comércio exterior, muito menos pela posição sua de segurança ou de força ou por sua ideologia. No novo marketing internacional os valores crescentes são a dimensão do mercado interno de bens e serviços, a exploração de bens e riquezas naturais, a capacidade e o potencial energético, o turismo, o lazer, a cultura, o mercado financeiro, o mercado mobiliário, o potencial de êxito dos investimentos produtivos na agricultura, indústria, comércio e serviços. Além desses, a confiança que despertam as regras econômicas, a estabilidade política e a infra-estrutura básica da comunicação e dos transportes. São todos fatores que interagem no processo da criação da imagem de um país. A relatividade desses fatores no novo marketing internacional depende da ponderação entre os prós e os contras de cada um, e da nova resultante a que chamamos imagem do país.

Um elemento importante – a cujo respeito há um grande desconhecimento – é que a imagem não é um fator estático. Curiosamente, sua deterioração se faz sempre em maior velocidade do que seus avanços. A imagem exige consistência e coerência, regularidade e persistência. E muita paciência. O que chamamos "mudar a imagem do país" (aquilo a que sempre somos convocados) é, no caso brasileiro, muito mais um esforço de construção do que de mudança. Não adianta fazer um esforço em prol da imagem – seja de um produto, seja de um país – se o produto ou país tem uma resultante ruim. E devemos admitir que, como produto, o Brasil ainda é um produto ruim, cheio de percalços, com uma série de enormes deficiências. Por isso, não digamos ser injusta a imagem que temos. Basta nos colocarmos no lado de fora para, com alguma isenção, descobrir que o teor de justiça da imagem brasileira é bastante elevado, e que as distorções não são tão graves quanto se imagina.

Outro ponto a considerar: edificar essa imagem de múltipla e variáveis facetas exige, primeiro, a compreensão de que são realmente múltiplos e variáveis os elementos que a compõem. Mas exige também que se construa um alicerce, uma base de operação. A base número um que eu imaginaria para essa operação é ter absoluta consciência do valor econômico da imagem. A imagem de um país tem valor econômico – mais do que político ou meramente diplomático. O segundo ponto é que não se conserta imagem, e muito menos ela pode ser edificada à base de panacéias, paliativos, comunicação pirotécnica, medidas incoerentes, duplicidade de valores (determinado fator tem um valor para uso interno e outro para uso externo) ou das delegações de missões importantes a delegados despreparados e incompetentes de várias origens, matizes e poderes. Esta última, aliás, é também uma especialidade brasileira: quase sempre se confia missões a quem delas nada entende e cuja competência é quase sempre medida nas salas de jantar… "Ontem, no jantar, Fulano deu uma idéia formidável!" O Brasil como cliente, ou qualquer fabricante de qualquer produto que qualquer agência tenha tido como cliente, sempre tem uma historieta sobre aquele interlocutor que ouviu, ontem, o palpite da mãe, da tia, do quitandeiro ou da empregada, e acredita que nessa idéia luminosa reside a grande solução para todos os seus problemas. Quando se coloca isso em termos de país então, fica uma graça...

Para que qualquer esforço de valorização da imagem do Brasil seja bem-sucedido, precisamos, portanto, em primeiro lugar, assumir com realismo o problema. Para isso é preciso enfrentar o que chamo de "combate às grandes falácias", os grandes erros presentes em nosso cotidiano. Eis alguns deles:

1) O governo comunica-se mal e tem coisas boas que não são ditas. Isso é parcialmente verdade, pois se tais coisas fossem tão boas e tão importantes, seriam divulgadas mesmo a despeito da incompetência da comunicação do governo.

2) O interesse pelo Brasil não é tão grande assim. Nenhum leitor de jornais internacionais se julga mal-informado só porque os grandes jornais passam bom tempo sem falar sobre nós. A culpa é dos jornais ou nossa?

3) A imagem não é só governo. Ela é também governo e tudo mais. E esse "tudo mais", na maioria das vezes, é bem mais do que o governo.

4) Há países de boa imagem no primeiro mundo que estão piores do que nós nisto ou naquilo. Penso que esta é desculpa de quem não tem humildade e não quer corrigir seus defeitos. A meu ver, não temos nenhuma autoridade para julgar a imagem dos outros. Ou melhor: nosso julgamento é absolutamente desimportante para que os outros se preocupem com ele. Se um dia concluirmos que a economia japonesa está toda errada, no dia seguinte o Keidaren se reuniria preocupado com isso?! Estamos vendo as reuniões em torno da Alca e o esforço que o Brasil está fazendo para dar algumas caneladas nos norte-americanos, num misto de agressividade e suavidade. Só que, se batermos demais, nós vamos ficar no Bloco do Eu Sozinho.

5) Agora dominamos a inflação, a retomada do desenvolvimento é inexorável e, por isso, nossos maiores problemas de imagem terminaram. Precisamos considerar que não somos o primeiro país a dizer ao mundo desenvolvido que "acabamos com a nossa inflação e agora está tudo consertado!". Com o Real, a confiança no Brasil aumentou bastante. Mas quero saber de alguém que tenha colecionado declarações dos presidentes da República e ministros da Fazenda nos últimos 20 anos, nas quais não tenham dito que "agora estamos começando a dominar a inflação". Isso ocorreu no Plano Cruzado 1, no Cruzado 2, no Plano Verão, nos planos heterodoxos, ortodoxos, A, B, C e, por conta disso, sempre os homens do Governo disseram que "agora, sim, acabariam todos os nossos problemas!". A comunidade internacional ouvia isso com profundo respeito e absoluto descrédito. E a culpa não era dela. Outra falácia, do mesmo naipe: "Nós chegamos à estabilidade dos preços, à seriedade da moeda, e agora o crescimento econômico vem aí de qualquer forma". Para muita gente do governo, esses são os únicos fatores importantes na formação de uma imagem. Eu diria que esses são mesmo os únicos, à exceção de todos os demais, que são muitos.

6) O Brasil é grande demais e diferente demais! O mundo sabe que não pode permitir que o Brasil desgarre, seja para a bancarrota, seja para a direita ou para a esquerda, porque ele é o país do futuro. Esta frase é repetida, mas a idéia fica travestida de afirmação falaciosa quando se repara na velocidade com que se concretizam as tão necessárias reformas constitucionais; ou mesmo a implementação de decisões já tomadas, como a Lei dos Portos, por exemplo. São as reformas que dariam as bases do crescimento. Curiosamente, quem começou a falar em reformas de base foi Leonel Brizola, ao propor o tema ao então presidente João Goulart, em pleno final do regime parlamentarista, quando eu era um jovem assessor do primeiro-ministro Tancredo Neves, em 1961. Eu tinha vinte e poucos anos. De lá para cá, elas só deixaram de ser "de base" para ser reformas essenciais, reformas inadiáveis, reformas absolutas, reformas com chantilly, reformas com libélulas, com miosótis etc. Se nós mesmos temos pouca crença nelas, como vamos exigir que os outros nelas acreditem?

Tentativas que pretenderam mostrar que o Brasil era diferente serviram apenas para redefinir o conceito do ridículo no plano internacional

A dicotomia internacional foi para o espaço, os alinhamentos mudaram nas nossas barbas, a esquerda e a direita já são difíceis de distinguir, a antiga União Soviética conta uma história do desastre ideológico etc. etc. E daí? Perguntariam. Isso não muda o nosso problema. Também Cuba achava que a então União Soviética não a abandonaria e, portanto, a ilha poderia seguir contando a história de sucesso de uma revolução que, no fundo, era apenas a história do sucesso de uma mesada.

"Nós, brasileiros, somos realmente diferentes!", argumentarão. Será? Cada uma das nossas tentativas de provar que o diferente dá certo resultou em ridículo. O Brasil, por exemplo, foi o único país a fazer festa para comemorar o calote. Quando decretamos a moratória da dívida externa, anos atrás, fizemos disso um grande evento no Palácio do Planalto. Nesse ponto, o Brasil é realmente diferente. Usando a expressão italiana, a comunidade financeira internacional se me frega da tal moratória, e foi só questão de tempo para o país chegar ao cocho, visto que há duas leis que não conseguimos revogar: a lei da gravidade e aquela que reza que quem deve tem de pagar.

Os ensaios heterodoxos não mudaram as leis da economia. Em 1986, elegemos vinte governadores do PMDB em função da ordem de mandar prender boi no pasto, e hoje a mesma estrutura política que fez isso tem a maior dificuldade para sustentar-se no panorama político, porque o povo não é tão desmemoriado assim. A maioria das tentativas que buscaram mostrar que o Brasil é diferente – e, portanto, pode ter soluções próprias – apenas redefiniu o que chamo de conceito do ridículo no plano internacional.

Em meio a esse cenário, quais devem ser nossas preocupações? Primeiro, precisamos ter muita consciência a respeito dos caminhos a percorrer para mudar uma imagem – ou, melhor ainda, construir uma imagem. Isso vale para produtos, para empresas, para pessoas e para países. O primeiro passo é admitir a má imagem. Nós cansamos de ver, na nossa atividade, o anunciante que diz:

– Precisamos resolver a vida desse produto porque ele está com alguns problemas de imagem, mas é a melhor água mineral do universo, sua distribuição é a mais sensacional e todo o resto está formidável. Só a propaganda está errada!

Quantas vezes nós, publicitários e agências, já ouvimos frases assim e ficamos tentados a interromper o discurso do sujeito? Fiz isso uma vez e, evidentemente, perdi a conta. Na ocasião, fiquei um pouco impaciente e disse ao cliente: "O senhor pode parar um pouco para eu prosseguir sua conversa?" Em seguida, disse a ele tudo o que ele iria dizer-me. Como era uma concorrência, minha chance de vencê-la foi imediatamente a zero.

Depois de admitir que tem má imagem, o Brasil precisa determinar as hierarquias. Quais são as fontes realmente negativas que estão influindo na má imagem do país? Se forem vinte, não será possível combatê-las todas ao mesmo tempo. Dá para saber quais são as três mais importantes? Dá para tentar enfrentá-las? E só poderemos enfrentá-las se assumirmos um mea culpa com absoluta inocência e isenção.

A partir dessas constatações, o passo seguinte é realmente hierarquizar e determinar as medidas de combate. Não adianta tentar fazer tudo ao mesmo tempo. Imaginem se chegasse um anunciante para vender um produto e a agência dissesse: "É muito fácil: o senhor tem de fazer uma campanha na televisão, uma no rádio, uma no outdoor, uma em revista e outra no ponto da venda, além de chamar uma agência de relações públicas para o processo de divulgação". Tendo isso tudo, seria formidável. Mas se não é assim, como fazer? No caso da imagem internacional do Brasil, o primeiro grande drama é ter a consciência de que: 1) ela é ruim; 2) a culpa não é só do governo; e 3) ela não vai ser mudada do dia para a noite.

Como fazer isso? Certa vez, em conversa com aquele grupo de trabalho do Itamaraty a que me referi no início, eu disse: "Vamos procurar as santas alianças". A primeira delas: é preciso que o governo federal e sua hierarquia de executivos, representantes e delegados comecem a pensar e agir pelo menos próximo uns dos outros. Para isso é preciso muito diálogo entre todos eles. Sei, por exemplo, que às reuniões daquele grupo de trabalho não compareciam representantes de alguns ministérios que deviam estar lá – ou porque não acharam aquilo importante ou porque não perceberam a contribuição que poderiam dar para resolver o problema. Em qualquer país civilizado o problema da imagem, em termos do governo, acaba sendo um subproduto de duas áreas: relações exteriores e comércio exterior. Então vamos dar prioridade a essas duas e trabalhar em cima delas.

Cidadão e instituições precisam ter clareza quanto a suas responsabilidades na construção e fortalecimento de uma boa imagem do país

A segunda santa aliança é com as estruturas político-partidárias. O político não é só uma fonte de notícias, mas também uma fonte de ação. Se para ajudar a resolver o problema de imagem não for possível contar com a parceria e a compreensão do político – sua conivência ou, melhor ainda, sua dedicação – então teremos aí um elemento altamente negativo. Não há nada mais negativo do que a atitude política inerme. Se o político acha que isso não tem relevância ou que ele não tem de se meter com questões relativas à imagem do país, então certamente já começou a atrapalhar o processo. Na realidade, muito pouco esforço está sendo feito junto à classe política e aos partidos para explicar os problemas da imagem do Brasil; e para descobrir em quê a política, os políticos e as estruturas partidárias podem contribuir.

A terceira aliança é a que pressupõe uma grande parceria do Estado com o mundo empresarial, com a iniciativa privada. As empresas precisam ter a consciência de que a imagem do Brasil tem um valor econômico-financeiro significativo. É um patrimônio que ajudará a atividade da empresa, seja qual for seu setor de atividade.

Uma outra aliança absolutamente necessária é com a sociedade civil organizada. As entidades oficiais e as oficiosas precisam saber por que a imagem do Brasil é tão importante. Dessa forma, finalmente, chega-se à cidadania como um todo: o cidadão também precisa perceber suas responsabilidades na construção e fortalecimento de uma boa imagem do país.

Fiz meu primeiro trabalho publicitário quando trabalhava na redação do jornal O Globo, no Rio de Janeiro. Era um free lance para a McCann Erickson, para a conta da Esso. Em 1964, quando eu era redator automobilístico do jornal, fui convocado por José de Alcântara Machado e Alex Periscinoto para ajudá-los a organizar um grande plano de comunicação que a agência Alcântara Machado estava produzindo. Foi o primeiro grande plano de comunicação oferecido a uma indústria automobilística brasileira, e a agência não queria fazer só a parte publicitária e de marketing, mas um quadro mais amplo de comunicação e relações públicas. Entrei nessa equipe e ali aprendi muito com o Alex. Aprendi tanto que resolvi fazer uma agência. Alex dizia, então, uma coisa muito importante: "Você tem que mirar o destinatário da sua mensagem e lembrar que ele é obrigado a perguntar: ‘O que é que isso resulta para mim? Que é que levo nisso? Qual é o meu interesse?’"

O cidadão precisa saber qual é seu interesse na imagem do Brasil. Para isso, precisamos avaliar a Comunicação Social não só como instrumento, mas, principalmente, ela precisa ser pensada como um meio. Primeiro, para ajudar a mobilização e a conscientização internas sobre o valor da imagem. Segundo, para promover e divulgar os avanços. Terceiro, para combater os desvios e as desinformações que existem. Quarto, para estimular em todos os participantes o sentido da auto-estima, do orgulho e da realização da cidadania. Para tanto é necessário coordenar os esforços de comunicação desde a notícia até o anúncio, da idéia até o produto. Sei muito bem que é um caminho cheio de percalços. Por um lado, há um problema grande de divulgação jornalística interna e externa, na grande mídia – seja no Brasil, seja lá fora. Por outro, há um grande espaço para a microdivulgação jornalística interna e externa, nos newsletters, nos relatórios setoriais, nos house organs nos fax services e na Internet. Isso já espalha um volume muito grande informações e precisa ser levado a sério. Finalmente, será preciso valorizar as chamadas medidas promocionais, de relações públicas e de eventos, que vão desde os congressos e seminários até as exposições e conferências, cadernos e edições especiais, visitantes ilustres, caravanas, expedições etc.

Em determinado momento, o Brasil fazia grandes expedições de empresários, que acompanhavam as viagens internacionais de suas majestades os presidentes da República. Uma, para a Itália, ficou famosa porque contava com cerca de 400 empresários. No dia seguinte à sua chegada, a imprensa italiana divulgou que a contabilidade do principal hotel que a recebeu registrou um grande número de travesseiros e cinzeiros roubados. Todo o mundo deu graças a Deus pelo fato de a imprensa italiana não ter descoberto a festa que aconteceu no 4º andar, onde assessoras técnicas desfilavam nuas pelos corredores por se terem enganado com o número das portas dos quartos. Curiosamente, na mesma noite houvera um jantar oficial ao qual toda a delegação tinha comparecido, embora alguns de seus membros, mais cansados, tivessem saído mais cedo.

Para resolver nossas deficiências de imagem, temos de estimular iniciativas de lobby junto aos alvos mais importantes. Temos de prevenir e enfrentar as restrições ao nosso país, seus cidadãos, suas empresas e suas pretensões. Temos também de fazer publicidade interna, visando a segmentos definidos de público de um lado e, do outro lado, a grande opinião pública. Para isso tudo é preciso, evidentemente, hierarquizar os mercados e as priordades, determinar quais são os geradores de opinião de maior força e neles concentrar o trabalho. Tudo isso e também usar os fatores positivos de que o Brasil dispõe, que são muitos.

Se o produto Brasil é a resultante de uma série de produtos, que coisas importantes temos hoje em mãos? Neste mundo globalizado, em que os negócios deixaram de estar confinados às fronteiras, o que está por trás do Real é realmente algo importante. Um país que vinha com uma inflação galopante, agora convive com uma moeda estável e tem coerência em suas medidas econômicas. Essa já é uma história boa de contar. Porém, para mostrar como é difícil contá-la, passo a relatar um episódio.

Em setembro de 1995, o ministro Pedro Malan ia ao exterior participar de uma reunião econômica em Davos, na Suíça, e solicitou à área da comunicação de seu ministério um folheto sobre o Brasil que desse um pouco da história do Real, com números concretos e dados inquestionáveis. O Ministério da Fazenda forneceu as estatísticas e, por coincidência, eu estava em Brasília no dia em que o ministro recebeu o trabalho, duas semanas antes de viajar. O produto final era de uma pobreza gráfica absolutamente franciscana, quase ridícula. Com um bom microcomputador, qualquer estudante de Comunicação faria melhor. Mas a área especializada só tinha fornecido aquilo. Decisão do ministro: "Isto eu não levo!". Um conselheiro do Itamaraty pediu: "Ministro, deixa a gente tentar melhorar?". Olhou então para mim e me fez compreender que eu estava escalado para "voluntário", por mera presença:

– Mauro, dá para fazer isso?

– Dá. A gente embeleza um pouco, faz novos gráficos…

– Em quanto tempo?

– Se não mexerem no texto, em cinco dias estará pronto e o ministro terá o que levar a Davos.

– E quanto custará?

– Uns 10 mil ou 15 mil reais, um preço ridículo que só vai cobrir o custo gráfico. A agência não vai cobrar nada...

– Mauro, há um problema: nós não temos verba.

Eu também tinha dificuldades. Naquele momento, sequer podia embutir o gasto em alguma conta do Governo federal, pois não tinha nenhuma. Mas procurei resolver. E disse:

– Se o ministro não me proibir, solicito a duas ou três entidades privadas, tipo Febraban ou Fiesp, que dêem essa exuberante contribuição em troca de colocar num canto da publicação, em corpo 4, o seguinte texto: "A produção deste folheto foi possível graças à contribuição de entidades privadas ao governo brasileiro".

– Pode tocar –, foi a resposta.

Mandei tocar em edição bilíngüe, português e inglês. Só esqueci de falar com as entidades privadas. Mandei ao ministro cinco ou seis modelos de capas e foi escolhida a que tinha a imagem da cédula do Real. Ele levou o material a Davos e até recebeu um bilhete do então ministro argentino Domingos Cavallo, elogiando o trabalho. Quando Malan voltou de viagem, o seu ministério já queria uma versão em espanhol, outro em francês e outro em alemão. Para encurtar a história: em meio ano foram feitas sete ou oito edições do folheto, sempre atualizadas. Além dos dados fornecidos pelo Ministério da Fazenda, coloquei os nomes do presidente da República e dos ministros e, a cada edição, os dados mais interessantes do momento econômico, como venda de veículos, de eletrodomésticos, quilowatts gerados, petróleo produzido e mais uma dúzia de quadrinhos estatísticos cuja fonte foram os dados coletados pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP). O ministro Malan adorou.

Música, moda, as artes, o folclore , os esportes e as empresas são elementos importantes, que ajudam a vender a imagem do Brasil no exterior

O total das edições custou pouco mais de 90 mil reais. Com um telefonema à presidência da Fiesp, outro à da Febraban e à da Abap, consegui esse dinheiro. Tudo isso, portanto, não custou um tostão ao governo. E uma dessas peças acabou sendo o folheto oficial da viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso a Paris. Ainda assim, convenhamos: foi ridículo que o processo de produção do tal folheto tivesse ocorrido da forma como ocorreu.

Será preciso notar, de outra parte, que o Real é elemento positivo do ponto de vista da imagem do país. Depois, devemos lembrar que temos hoje um garoto-propaganda excepcional na figura de Fernando Henrique Cardoso. Para preparar esta conversa, percorri os recortes de suas viagens e percebi o tamanho da incompreensão que elas geram aqui no Brasil. "O presidente é passeador", grita a mídia. Mas ninguém diz que ele tem trabalhado com comitivas absolutamente pequenas. Mesmo as comitivas voluntárias de empresários têm sido extremamente limitadas, embora a nova geração dos viajantes empresariais não seja muito chegada às festas do 4º andar de um hotel romano… Outras gentes, outros tempos, ainda bem.

Atualmente temos diversas coisas que estão ajudando a vender o Brasil – como a música, a moda, certas áreas da pintura e da escultura, o folclore, o futebol, as empresas aéreas etc. Por bom tempo, uma agência da Varig, lá fora, era mais importante que um consulado brasileiro. Hoje, a Varig e a Vasp são geradoras de notícias positivas no exterior, e as regionais também começam esse caminho. Em 1996, a TAM foi escolhida por um júri absolutamente independente como a empresa de aviação regional mais eficaz do mundo. E por aí vão o automobilismo brasileiro, os esportes etc. Vamos lembrar que Cuba e a ex-União Soviética fizeram no esporte um forte investimento de imagem, sustentando atletas e fazendo surgir uma geração de vencedores. Como uma ilha como Cuba, daquele tamanho, poderá ter chegado a ser a quarta ganhadora de medalhas em uma Olimpíada? Em contrapartida, que apoio tem o atleta brasileiro? Quase nenhum. E os poucos que têm patrocínio só o conseguem graças à iniciativa privada.

Ainda assim, temos excelentes fatores que podem contribuir para a imagem do país. Temos o Carnaval, a Amazônia, o Pantanal, o cinema, o livro... Um dos dez maiores vendedores de livros do mundo, hoje, chama-se Paulo Coelho. Ele tem mais de 17 milhões de livros vendidos, em mais de 20 línguas! Em 1996, o governo francês lhe deu a honraria de Cavaleiro das Artes, justificando o diploma "pela sua colaboração e contribuição para a difusão das artes e do amor ao livro". Ele vive dando entrevistas na televisão francesa, fala um francês muito bom. Aqui no Brasil, no Itamaraty, o presidente Jacques Chirac, em visita ao país, fez carinhosas referências a Jorge Amado e a Paulo Coelho no seu discurso. E o Itamaraty ofereceu um jantar para 600 pessoas sem incluir Paulo Coelho na lista de convidados… Isso se chama preconceito e falta de realismo.

Possuímos um extraordinário animal vendedor, chamado Edson Arantes do Nascimento, que é absolutamente subaproveitado. É impossível chegar com Pelé a qualquer parte do mundo sem que ele seja notícia. Uma vez, há muitos anos, quando Caio Alcântara Machado presidia o então Instituto Brasileiro do Café, um consórcio formado pelas agências DPZ, Salles, Norton, MPM e Denison ia fazer a campanha para o IBC. E a campanha tinha de começar depressa. O cenário era o seguinte: no momento em que circulasse no Brasil a informação de que o consumo interno de café iria subir, o preço do produto lá fora se elevaria. Era uma jogada promocional interessante, montada pelo Caio. Tínhamos a campanha pronta. O Sérgio Ferreira, vice-presidente da Denison, e eu fomos encarregados de levá-la a Frankfurt, onde Caio estaria para aprová-la, já que ele só voltaria ao Brasil dez dias depois. Com aqueles enormes porta-layouts e uma mala com roupa para um dia, desembarcamos eu e Sérgio no aeroporto de Frankfurt.

Estava combinado que Caio veria (e, se possível, aprovaria) a campanha no hotel e já tínhamos a passagem de volta marcada para o dia seguinte. Mas a polícia do aeroporto de Frankfurt nos "grampeou" logo no desembarque: "O que é isso aí? Deve ter alguma coisa errada", interpelaram. Explicamos que era uma campanha publicitária que estávamos levando para o presidente do IBC, que nos aguardava em um hotel da cidade. "O IBC não é no Brasil? Então por que vocês vieram para cá?", perguntou um policial. Explicamos que nosso cliente estava em viagem pela Europa e em trânsito por Frankfurt, mas quanto mais explicávamos menos os dois guardas confiavam em nós. Naturalmente, havia as deficiências do meu inglês e do francês do Sérgio, já que o alemão nenhum dos dois falávamos. Aí veio o policial chefe, com uma porção de bandeiras no peito, inclusive a portuguesa, significando os idiomas que dominava. Ele achava que aqueles anúncios tinham alguma coisa misteriosa, que iam gerar receita na Alemanha, coisas do tipo. Enfim, formou-se uma grande confusão. Aí, o chefe dos policiais perguntou: "Vocês são mesmo brasileiros? Vocês conhecem o Pelé? Ele fez mesmo aquela jogada maravilhosa que deu no jornal?" O Sérgio Ferreira, que era até amigo do Pelé, respondeu de bate-pronto: "Claro! Inclusive estive com ele anteontem!". O policial, então, decretou: "Ah, então está tudo bem!". Em resumo: o Pelé nos salvou da cadeia e foi co-responsável pela aprovação da campanha. Isso aconteceu vinte anos atrás, mas vejam a força da imagem desse homem genial chamado Pelé.

Se temos valores positivos, devemos enfrentar com decisão os valores negativos; e o primeiro destes é o chamado "custo Brasil"

Se temos esses valores positivos, precisamos enfrentar com decisão os negativos. O primeiro destes é o chamado "custo Brasil". Tudo por aqui é mais caro, desde o sanduíche do McDonalds até a Coca-Cola, o hotel, a passagem aérea etc. E quando se pensa na exportação? Está aí a Brasmotor, que exporta para o Japão compressores Embraco fabricados ou em Joinville ou na Itália ou na China. Enquanto os que saem da Itália ou China dão lucro, os que saem do Brasil dão prejuízo e o Sr. Miguel Etchenique é obrigado a usá-los para atender à clientela, trabalhando no preço médio. Os que saem do Brasil dão prejuízo porque têm imposto embutido demais e porque o transporte aqui paga taifeiro, faxineiro, intermediário e o diabo a quatro. E ninguém parece estar enfrentando isso com a seriedade necessária para o Brasil se tornar um país realmente competitivo.

Outro grande drama é a nossa língua. Quase 300 milhões de pessoas falam português no mundo inteiro e fazemos disso uma grande vitória da obscuridade. Ninguém lá fora fala português, se incluirmos no "lá fora" as grandes economias e os grandes mercados. Temos ainda um problema de segurança. Todos os países, aliás, têm problemas de segurança, só que a cada vez que criamos um problema, nós caprichamos e fazemos coisas requintadas: não tocamos fogo em um mendigo qualquer, mas em um índio. Não promovemos tráfico sexual de adultos, mas de prostitutas de menos de 10 anos. É negócio caprichoso, com um requinte de criatividade e de competência que facilitam a divulgação – que, evidentemente, não podemos imaginar ser positiva.

Temos também facilidade para criar notícias exóticas. Eu assessorei, por exemplo, o consórcio da Votorantim e da Anglo American no dia do leilão da Companhia Vale do Rio Doce. No prédio do Bozzano Simonsen, no Rio, estavam os quatro grandes grupos concorrentes, acompanhados daqueles guias todos. Eram várias salas onde se instalaram Antônio Ermírio de Moraes e diretores da Votorantim; o grupo da Caemi, com os dois irmãos Fhering mais três japoneses da Mitsui; o chairman da Anglo American etc. A Anglo American vende 40 bilhões de dólares por ano. Com bastante antecedência, o chairman do grupo marcou em sua agenda os dois dias do leilão. Ele só não sabia que no Brasil não é bem assim: ficou comendo sanduíche o tempo todo e não viu leilão nenhum. Ainda bem que o Bozzano, Simonsen colocou telefones diretos e fax em cada sala e, dali, eles podiam dirigir suas empresas à distância. Havia também ainda a sala do consórcio da Nippon Steel, de nove siderúrgicas e quatro tradings. A soma dos ativos dessas empresas atinge 100 bilhões de dólares. Estavam ali uns vinte japoneses, todos de terno cinza, só o chefe de paletó azul. Em um momento como aquele, como explicar a esses executivos o que é uma liminar?! Vários tentaram, até que na quarta rodada eu fui chamado para explicar aos japoneses por que uma liminar parou o leilão da Vale. Agora eles devem estar em Tóquio, mas estou absolutamente consciente de que foi total o meu insucesso na tentativa de explicar a eles o que estava acontecendo. E não chego a ser alguém completamente despreparado para explicações dessa ordem.

Mostrei aqui um quadro ampliado. Citei a necessidade da consciência. Acredito que já fizemos uma porção de avanços. Mas é preciso enfatizar que não se muda uma imagem do dia para a noite, nem fechado em uma concha. É preciso haver intercâmbio, é preciso procurar saber o que os outros fazem lá fora e aprender com seus acertos e erros. O dirigente de uma empresa norte-americana inventou um "fator NIH", um dos maiores inibidores do avanço da empresa moderna: "NIH – not invented here". Quer dizer, se não foi inventado por mim, não presta. Ora, o que existe de posturas semelhantes em nosso governo e nas nossas empresas é um absurdo. Se o "fator NIH" dominar, estaremos perdidos.

De todo modo, não imaginemos fazer a imagem do Brasil sem custo. Será possível que qualquer país de quinta categoria considere importante ter uma agência de relações públicas e de lobby no mercado norte-americano, gastando nisso 15 milhões de dólares/ano, enquanto o Governo do Brasil não consegue fazer um folheto decente para levar a Davos?

Temos um potencial turístico grandioso e ainda não entendemos que o turismo é uma grande arma moderna. Barbados, uma ilha de pouco mais de 300 quilômetros quadrados, investe 30 milhões de dólares/ano em sua propaganda, principalmente nos Estados Unidos e nos países da Europa mais próximos do Atlântico. Em 1993, participei de uma concorrência e ganhei a conta da Embratur. E, como sempre ocorre no Brasil, fui obrigado a ouvir:

– Nesse primeiro ano ainda não conseguimos consertar a situação e nossa verba é de 2 milhões de dólares. Mas depois virá um projeto de 20 milhões de dólares...

– Dá para começar –, eu disse. Mas não adianta preparar aqui um anúncio que eu considere ótimo para Nova York: é preciso também contar com uma agência de fora, pois tem gente que sabe falar com Nova York melhor que eu.

Pois bem: a maior importância anual que se gastou enquanto tive o contrato foi de 3 milhões de dólares em um ano. A conta é tão ridícula que, em nova concorrência feita para o prolongamento do contrato, a Salles decidiu não participar. Ainda mais para disputar uma verba dessas – 3 milhões de dólares –, menos do que uma rede de hipermercados investe em propaganda em apenas cinco Estados, no Brasil, no mês do Natal. E é com isso que queremos fazer um grande movimento no turismo brasileiro. Não dá. Imagem tem custo! Por essa razão, a resultante dela é arte, é patrimônio, é valor agregado.

Além de tomar consciência da situação, precisamos nos capacitar da necessidade de investir dinheiro em propaganda, em promoções e em feiras. O Brasil quase sempre está ausente das feiras internacionais, e quando está presente tem uma grande brigalhada, pois ninguém sabe quem é o dono da ação. A coisa só é um pouco melhor quando não é feita pelo governo. Em 1995, por exemplo, em Frankfurt, o Brasil teve o pavilhão principal da Feira do Livro. E isso porque a Associação Brasileira de Editoras trabalhou muito. O governo quase não entrou – e quando entrou, custou para pagar, dentro da mais absoluta tradição brasileira. E chegou a Frankfurt querendo mandar, o que também é da tradição brasileira.

Trata-se, portanto, de um tema inesgotável e extremamente estimulante. O Itamaraty tem a maior dificuldade no relacionamento com a imprensa internacional. Em determinado momento, o governo brasileiro criou a figura do adido da imprensa nas embaixadas mais importantes, favorecendo a escolha de jornalistas ou homens de relações públicas para a posição. Com raras exceções, porém, os premiados com esse cargo foram os amigos do poder, e quase todos eles o converteram em sinecura, em vilegiatura às custas da viúva. O Itamaraty foi obrigado a improvisar diplomatas nessas funções, alguns com bastante êxito e outros com gritante insucesso. Da mesma forma, até hoje o Itamaraty não conseguiu criar a figura do adido cultural fora da carreira diplomática. O adido cultural e o adido da imprensa são os dois profissionais da maior importância de qualquer embaixada de país sério, já que ambos concorrem para estimular os fatores positivos da imagem de um país.

Encerro com um pequeno fato pitoresco. Em outubro de 1993, jornal O Globo publicou esta manchete interna, sem sequer chamada na primeira página: "País já tem 12 mil homicídios em 93". Tratava-se do estudo rea-lizado em apenas 11 Estados brasileiros, no primeiro semestre daquele ano, quando Romeu Tuma era chefe da Polícia Federal. Ao sair do cargo, Tuma, por interesse pessoal, continuou juntando aquelas estatísticas. Os 12 mil homicídios acabaram virando manchete em uma porção de jornais lá fora, pois naquele semestre o Brasil foi de longe o recordista nos homicídios. Lembro que fui convocado pelos poderosos de então, que queriam saber o que se poderia fazer. Dei dois ou três palpites, que evidentemente não receberam a menor consideração. Depois, porém, resolvi acompanhar o resultado, que foi o seguinte: a Polícia Federal foi absolutamente desestimulada tanto a continuar formular tais estatísticas como a ampliá-las, dos 11 para os 26 Estados. Nunca mais o Brasil divulgou sua estatística de homicídios. E, com isso, alguém certamente pensou ter resolvido um grande problema da imagem. De minha parte, prefiro não contestar…


 
  

            

     

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