Ano 8
Nº 28
3º Trimestre de 1998

  

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Ação para o desenvolvimento

     

O CIEE insere-se nas atividades do Terceiro Setor trabalhando com recursos da iniciativa privada em programas de promoção da cidadania.

por Luiz Gonzaga Bertelli (*)
 

Caridade e filantropia. Vinte anos atrás, essas palavras circulavam em conversas e encontros específicos, geralmente em centros paroquiais. Denominavam atividades secundárias, desenvolvidas por um número limitado de voluntários que dedicavam parte do seu tempo ao bem-estar da comunidade. Na sua evolução semântica, os dois vocábulos têm assumido diversos sentidos. Já nos textos de São Paulo, o apóstolo, os encontramos a significar o amor de Deus aos Homens.

Modernamente, o significado deles transforma-se e ganha uma nova dimensão, passando a ocupar espaço nos trabalhos de pesquisa e planejamento e dando corpo a uma nova área de atuação - o Terceiro Setor -, a esfera das organizações não-governamentais sem fins lucrativos e voltadas para a ação social.

A nova postura desfaz a cômoda tendência de transferir ao Estado a responsabilidade pela prestação desse tipo de serviço. É justificada a exigência de que o Estado cumpra seus compromissos com os setores carentes, a exemplo do programa Comunidade Solidária, que exerce a filantropia de forma séria e eficiente. Mas também os segmentos mais desenvolvidos da sociedade têm sua parcela de compromisso com a eliminação dos problemas sociais.

Na área empresarial, a filantropia traz ganhos competitivos para as corporações e seus funcionários. Unindo-se a valores inerentes da qualidade de serviços e produtos, o humanitarismo reforça o conceito de que a empresa moderna não se preocupa somente com o lucro, mas também busca integrar-se na comunidade onde atua e, com isso, agrega valor à fidelidade e à identificação do consumidor com a marca.

Em entrevista à revista Time, Lesa Ukman, presidente da IEG, empresa norte-americana de marketing, resume a nova postura numa frase feliz dirigida: "Você não terá lucros decentes, a menos que seja socialmente responsável". Esta é a premissa da empresa-cidadã, compromissada com o bem-estar de seus funcionários, da comunidade onde atua e da sociedade a que pertence.

Os números mostram que a recompensa pela realização de ações humanitárias vai muito além da satisfação de contribuir para a solução de problemas pontuais, ainda que de grandes dimensões. Em março de 1998, pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), no Rio de Janeiro, em conjunto com a universidade norte-americana Johns Hopkins (Baltimore), apontou o crescimento de 45,16% na mão-de-obra ocupada por organizações não-governamentais, entre 1991 e 1995. Os dados, que indicam a criação de um apreciável número de oposto de trabalho no Brasil, foram veiculados pelo jornal Gazeta Mercantil em uma reportagem sobre o fortalecimento das entidades sem fins lucrativos - que já envolvem 1,4 milhão de pessoas, mais do que o dobro do total de servidores federais. O jornal também publica balanços sociais com investimentos realizados em projetos sócio-culturais, trabalho feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

O CIEE, uma organização não-governamental e filantrópica, tem longa e consistente experiência para dividir com os integrantes do Terceiro Setor. Com um trabalho sempre balizado por critérios profissionais, executa ações próprias ou em parceria com empresas e instituições. Programas como o Projeto Carta aos Professores Rurais, desenvolvido em conjunto com a fundação E.J. Zerbini e o Centro de Estudos e Documentação para Ação Comunitária, e a adoção do município de Igaci, em Alagoas, em parceria com o Programa de Alfabetização Solidária, mostram resultados positivos e estimulantes. É o caso também do Programa Adolescência & Cidadania, iniciativa da unidade do CIEE do Espírito Santo que promove a socialização de jovens de famílias de baixa renda; e do Programa CIEE de Alfabetização de Gratuita para Adultos, desenvolvido em parceria com empresas e a Arquidiocese de São Paulo, cujos resultados demonstram a importância da manutenção de ações sociais que se revelem instrumentos de desenvolvimento humano.

O estágio, o principal serviço que presta desde sua fundação há quase 35 anos, garante ao CIEE o papel fundamental de agente que interliga os mundos da educação e do trabalho, como prevê a Constituição Federal, e se revela o mais eficiente instrumento de preparação do jovem para exercer, de forma plena, o seu trabalho e a sua cidadania. Na feliz expressão do jurista Ives Gandra Martins, "o CIEE é a instituição no Brasil que melhor cumpre o inciso constitucional e, prescindindo da ajuda oficial, obtém os seus recursos apenas na iniciativa privada".

(*) Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola, diretor da FIESP-CIESP e da Associação Comercial de São Paulo.

 

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