Ano 7
Nº 24
3º Trimestre de 1997

 

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Educação para o futuro

     

A iniciativa privada promove ações que contribuam para o aumento das taxas de escolaridade dos trabalhadores brasileiros.

por Carlos Eduardo Moreira Ferreira (*)

Há na globalização econômica um item mal resolvido em relação ao fator mão-de-obra. À medida que está consolidada a livre circulação de mercadorias e as empresas exercem suas ações internacionalmente integradas, permanecem ainda rígidas, entre os países, as barreiras migratórias dos trabalhadores. A imigração ilegal em massa revela apenas que este é um problema à espera de solução oficial; que permita, no futuro, num nível extremo de maturidade nas relações internacionais, a mobilidade de mão-de-obra idêntica à mobilidade já existente de produtos e serviços.

Mas o terremoto globalizante atingiu tão profundamente o universo dos trabalhadores que só falta mesmo esse último passo para se consolidar. Nesta época em que o fim do século sugere o ocaso de múltiplos papéis, fala-se muito em fim do emprego. O emprego entendido nos limites determinados nos séculos 19 e 20 está realmente acabando. O que emerge é o trabalho desvinculado da alienação tão cara ao taylorismo e à revolução de Henry Ford. O sintoma mais evidente dessa mudança é o aumento da exigência escolaridade.

Hoje, indústria e comércio procuram trabalhadores principalmente com segundo grau completo. Dependendo da função a ser exercida, é preciso também conhecimentos em informática, língua estrangeira, além de especialização técnica. A extrema competitividade do mercado globalizado faz com que as empresas invistam maciçamente em educação e treinamento. É preciso criar diferenciais de mercado e atender exigências de programas de qualidade e eficiência, como é o caso da capacitação dentro das normas ISO. As indústrias, especialmente as metalúrgicas, querem ver no currículo do trabalhador o diploma do segundo grau para o exercício de funções no chão de fábrica. E já existem empresas que optam pela internacionalização do treinamento.
    

O melhor patrimônio

Os trabalhadores também estão atentos à nova realidade. Sabem que é preciso reciclar-se para manter suas chances no mercado. A classe trabalhadora no Brasil, como registram estudos recentes, hoje é mais escolarizada do que no passado.

Pesquisas da Fundação Seade mostram que parte da população economicamente ativa, de 10 a 18 anos, na região metropolitana da Grande São Paulo, por exemplo, teve um aumento no nível de instrução – passando de 5,7 anos de escolaridade em 1986 para 6,8 anos em 1996. No grupo entre 18 e 30 anos, a evolução foi de 7 para 8 anos, comprovando que uma proporção significativa de trabalhadores já alcançou completar o primeiro grau. Na faixa entre 31 a 49 anos houve um salto quantitativo de 7 anos em média (1996) contra 5 anos de estudos em 1986.

A distribuição dos ocupados segundo o nível de ensino também indica o crescimento dessa tendência. O Seade mostra que 12% do total da população economicamente ativa da região metropolitana de São Paulo possuíam o segundo grau completo em 1989. Sete anos depois, esse índice elevou-se para 16,5%. Também houve aumento do terceiro grau completo, de 8,6% em 1989 para 13,1% em 1996.

Está, portanto, mais do que clara a necessidade de o país reformar profundamente seu sistema educacional. Vamos ingressar no século 21 com um PIB que cresceu 12 vezes nos últimos 70 anos – só superado, nesse aspecto, pelo Japão –, mas, também, com uma população ativa cuja escolaridade média não passa de 3,2 anos. É um número comparável ao do Haiti e um indicador preocupante das nossas desigualdades sociais.

De sua parte, a iniciativa privada tem atuado intensamente para resolver o impasse de um país que precisa crescer e ainda conta com grande parte de sua mão-de-obra despreparada. O Telecurso 2000, por exemplo, uma iniciativa do Sistema Fiesp e da Fundação Roberto Marinho, já tem parcerias com 74 universidades, 26 secretarias estaduais de Educação, 26 Federações de Indústrias e cerca de 700 empresas em todo o país. São mais de 4.500 telessalas e 135 mil alunos, além de um acervo de 1.300 programas produzidos. Desse universo, convênios firmados com Estados e municípios atendem, apenas no âmbito das redes oficiais de ensino, cerca de 50 mil alunos em todo o país – número que se pretende aumentar substancialmente.

Experiências como a desenvolvida em conjunto com o governo paulista implantaram 93 telessalas em sete penitenciárias, onde 2.211 presidiários estão recebendo o apoio necessário para sua reintegração à sociedade. Também existem unidades em navios, favelas, quartéis e em ônibus de transporte de trabalhadores. Nessa área, todo esforço é pouco para cuidar do que existe de melhor no país, que são os seus trabalhadores.

(*) Carlos Eduardo Moreira Ferreira é industrial e presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

 

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