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As marcas da vida
A trajetória empresarial da Natura é
um exemplo de como a inteligência e o respeito ao consumidor são capazes de agregar
valor a uma marca. por Luiz Seabra (*) No início, apesar de toda a forte simbologia do nome, tínhamos como grande constrangimento para a expansão do negócio e do conhecimento da marca as limitações impostas por recursos materiais muito modestos. Como ativos, além de um capital de cerca de 9 mil dólares, tínhamos um grande sonho nascido de duas paixões fundamentais: a paixão pela cosmética e sua importância como geradora de instrumentos de bem estar para o dia-a-dia das pessoas, e a paixão pelas relações humanas e seus potenciais, a partir da percepção tão simples e iluminadora de que a própria vida é um eterno encadeamento de relações. Desde sempre, a busca do aperfeiçoamento e da qualidade - tanto em nossos produtos, nossa forma de fazer arte, como nas demais relações, nossa forma de valorizar a vida - permeava nosso cotidiano como uma natural imposição de nossas paixões e crenças. Para muitos, por muito tempo, nosso sonho podia parecer coisa de visionários ou poetas. No entanto, para nós tratavam-se de verdades pelas quais valia a pena viver, mesmo em meio a dificuldades. Na ausência de um canal adequado para distribuição e divulgação de nossos produtos e posicionamento, iniciamos nossas operações em uma pequena loja na Rua Oscar Freire, em São Paulo. Lá, eu pessoalmente atendia a clientela dando consultas, exercendo na prática a paixão pela cosmética e pelo cultivo de relações. Acreditávamos que o reconhecimento da qualidade inovadora dos produtos e serviços personalizados desencadeariam um processo de divulgação boca a boca que nos viabilizaria como negócio e traria o reconhecimento e prestígio para a marca. Estávamos certos na suposição, só não podíamos imaginar o trabalho e o tempo que isso demandaria. Foram pelo menos quatro anos de luta pela sobrevivência. As dificuldades inimaginadas, ao invés de desanimarem, mais nos tornavam determinados, já que tínhamos um caminho a seguir. Compensando os meios insuficientes, decorridos os primeiros "anos heróicos" possuíamos claramente uma Identidade e um Estilo bem definidos, constituintes fundamentais no processo de formação de imagem junto ao público consumidor, que nos diferenciavam expressivamente de todo o chamado "mundo da beleza". Como exemplo, cabe mencionar nossa posição a respeito da própria beleza, legítimo anseio de todo o ser humano. O culto à juventude, que habita a alma ocidental desde os gregos clássicos, passou a ser usado na sociedade de consumo como instrumento de marketing que, para a venda de produtos, adensa os preconceitos (envelhecer, fato inerente à vida, passou a ser motivo de ansiedades e de vergonha). Com a imposição de estereótipos que estabelecem para a beleza padrões de idade, raça e comportamento, o que assistimos é um autêntico crime cultural, um aprisionamento mental e emocional para toda a sociedade que, paradoxalmente, tem sua expectativa de vida ampliada pelos avanços científicos. Este aspecto cultural obsessivo angustia tanto a jovens, ao perceberem a fugacidade do tempo, quanto a pessoas maduras, pela condenação a uma vida em busca do tempo perdido e da forma ideal. Desde sempre demonstramos nosso inconformismo diante deste tipo de manipulação, o que não nos impede de oferecer, com sucesso extraordinário, produtos específicos para combate aos sinais do tempo. É este o caso da linha Chronos, que, com produtos de última geração tecnológica, reverencia a vida em cada fase e ciclo da existência. Acredito que graças a este e a tantos outros exemplos, inclusive no exercício de ações para mobilização e transformação da sociedade (expressão de nossas crenças e valores), fomos capazes de construir, a partir de um sonho e ao longo desses 29 anos, com o empenho de milhares de colaboradores, consultoras e consultores, uma das marcas Top of Mind deste país. (*) Luiz Seabra é presidente e fundador da Natura Cosméticos. |
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