Assessoria (e liberdade) de imprensa Ruy Martins Altenfelder Silva* A CPI dos Precatórios, em curso no Senado, tem proporcionado, dentre outros, a discussão de um tema relevante: os limites éticos da função de assessoria de imprensa. É que foi descoberto o contrato firmado entre um banco e uma empresa de assessoria, no qual esta se comprometeria a determinados serviços que, em tese, poderiam extravasar os limites da ética e da legalidade. Por isso mesmo, o tema merece profundas reflexões por parte da sociedade. Além de demonstrar o quanto é necessário normalizar o lobby no País, o episódio é importante para que se tenha plena e definitiva consciência sobre o exato papel e campo de atuação das empresas de assessoria de imprensa. Esta atividade é imprescindível no mundo contemporâneo, como canal de ligação entre a mídia e as fontes geradoras de notícias (governos, empresas, sindicatos patronais e de trabalhadores, entidades de classe, instituições políticas, religiosas, públicas e privadas e organismos internacionais, entre outras). O papel, legítimo e correto do assessor de imprensa é o de prestar serviços de boa qualidade ao seu cliente e, ao mesmo tempo, aos próprios veículos de comunicação. Ao recolher uma notícia da instituição ou organização para a qual trabalha e a colocar à disposição dos seus colegas dos jornais, revistas e emissoras de rádio e de televisão, o jornalista da assessoria de imprensa está contribuindo diretamente para a democratização da informação. Quando a iniciativa de procurar o cliente é do veículo de comunicação, o assessor de imprensa, da mesma forma, tem função importante, agilizando o processo, abrindo as portas e criando condições para que o trabalho de seu colega seja realizado da melhor maneira possível. Enviar releases, fornecer notas e notícias aos veículos de comunicação e os atender adequadamente, quando lhe é solicitada uma entrevista ou qualquer informação sobre o seu cliente, são os deveres básicos, legais e éticos do assessor de imprensa. Ao cumpri-los com competência e profissionalismo, o jornalista que atua na área de assessoria não só está justificando a sua missão junto ao cliente, como também contribuindo para a amplitude de conteúdo dos informativos da mídia impressa e eletrônica. Explica-se: por mais setoristas e repórteres que tenham os veículos de comunicação, seria impossível, para qualquer um deles, seja em qual for o País, cobrir todos os acontecimentos diários de um mundo contemporâneo estratificado e marcado por uma gigantesca diversidade de áreas segmentadas e altamente especializadas. Nesta grande teia de atividades, instituições, empresas, governos e sistemas sociais, muitas notícias importantes são tornadas públicas graças ao trabalho do assessor de imprensa. Evidenciada a importância desse profissional no contexto da comunicação, vale, agora, analisar os limites éticos de sua atuação. Não cabe a ele, após enviar um release ou uma simples nota ao seus colegas da mídia, exercer qualquer pressão que exceda aos parâmetros técnicos e éticos de seu trabalho, para que a informação seja veiculada. E esses parâmetros são muito claros: demonstrar profissionalmente, com um texto bem escrito, gramaticalmente correto e informações precisas, a importância do release como notícia. Em nada desabona o trabalho do assessor de imprensa conversar, pessoalmente ou por telefone, com seu colega da mídia, para comentar o texto enviado, perguntar sobre o eventual interesse em sua publicação e se colocar à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas ou agendar uma entrevista sobre o tema em questão. Ao realizar este trabalho, o assessor de imprensa terá cumprido integral, profissional, ética e dignamente o seu papel. Publicar ou não o release, entrevistar ou não o cliente são decisões soberanas do jornalista que trabalha no veículo de comunicação. Há, no Brasil, assessorias de imprensa que trabalham com alto nível de qualidade e dentro dos preceitos técnicos e éticos dessa atividade. A eventual existência de empresas que extrapolam esses limites, buscando obter lucro fácil com o exercício equivocado do lobby, não pode desencadear um conceito generalizado e distorcido do papel das assessorias de imprensa. Ademais, no caso denunciado pelos jornais é preciso dar à empresa o benefício da dúvida e lhe garantir amplo direito de defesa. A assessoria de imprensa, a exemplo do que ocorre com todos os demais segmentos da comunicação empresarial, é indispensável no contexto das profundas transformações políticas, econômicas e culturais do País e do mundo. É importante que as assessorias ainda não conscientes de seu real papel saibam que não há qualquer artifício capaz de afrontar uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro: a liberdade de imprensa! *Ruy Martins Altenfelder Silva, advogado, é presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e diretor-geral do Instituto Roberto Simonsen (IRS), da Fiesp/Ciesp. |
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