Dirigir ou digerir? Paulo Nassar Existe vida cidadã no planeta dos publicitários e anunciantes brasileiros. Os sinais de inteligência foram detectados na Folha de S. Paulo, de 11 de fevereiro, no artigo "O código e a indústria de bebidas", assinado pelo publicitário Agnelo Pacheco, que exorta os fabricantes de bebidas a alertar os seus consumidores do risco de dirigir alcoolizado. Agnelo já tinha falado, em 18 de janeiro, sobre o assunto no programa de rádio Imprensa e Comunicação em Debate, Rádio Bandeirantes de São Paulo. O outro sinal de vida veio do Sindicerv - Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja que anunciou, no final de dezembro, a existência de um guia do consumidor, o Vamos Falar Sobre Cerveja. O setor já se preparava, de forma low profile, para os novos tempos do novo Código de Trânsito Brasileiro. Agnelo Pacheco, em seu artigo, diz que "beber em excesso não causa danos apenas aos usuários. Gera violência e conflitos, prejudica famílias inteiras e liquida a capacidade profissional de qualquer indivíduo. Muita gente não entende por que os fabricantes de cigarros são obrigados a colocar, em seus anúncios e embalagens, advertências contra o fumo e os fabricantes de bebidas são poupados de divulgar os danos e os riscos do excesso do álcool". Eu entendo: A propaganda brasileira e os anunciantes de bebidas
glamourizaram os seus produtos por meio de campanhas publicitárias O sinal de vida cidadã enviado pelo Sindicerv ( Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), o guia Vamos Falar Sobre Cerveja - Guia do Consumidor, é um bom começo. Nele, o consumidor encontra de forma didática o apelo dos fabricantes para que bebam de maneira responsável. Além do compromisso das empresas de ser socialmente responsáveis e buscar soluções para o problema do alcoolismo. O guia será distribuído nos principais pontos de venda de bebidas de todo o País. Um folheto, o "Hoje eu Dirijo", com sugestões de como organizar um rodízio entre amigos, na hora de voltar para casa de carro após uma noite de diversão, acompanha o guia do Sindicerv. A iniciativa de comunicação segmentada do Sindicerv é louvável mas Para nenhum Narciso botar defeito, um time de grandes estrelas da publicidade brasileira entraria em campo. O publicitário Nizan Guanaes (cerveja Antártica) que tem entre as suas últimas frases de impacto, quando se refere às perspectivas da Economia brasileira, a pérola "Enquanto uns choram, outros fabricam lenços", poderia muito bem utilizá-la como slogan em um comercial de televisão sobre os milhares de acidentes de carros em que os motoristas estavam alcoolizados. O publicitário Eduardo Fischer (cerveja Brahma) colocaria à disposição o slogan "N° 1", para ilustrar a causa número 1 dos acidentes de carro: beber em excesso. A publicitária Magy Imoberdorf (a da Caninha 51) estrelaria um comercial contra o excesso de álcool usando o seu slogan: Caninha 51. Moderação, Uma Boa Idéia! O Brasil já amputou a perna de gente como o atleta olímpico, medalha de ouro, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, e enterrou prematuramente talentos como o compositor Gonzaguinha, entre outros, por causa de gente bêbada dirigindo nas estradas. Já é hora dos publicitários e dos seus patrões fabricantes de bebidas pararem de fabricar mensagens publicitárias que são verdadeiras mortalhas. Para o brasileiro, o ano de 1998 está cheio de motivos, para grandes comemorações: um deles é a Copa do Mundo. Uma boa razão também para os anunciantes de bebidas e publicitários começarem uma nova história. |
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