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Búúúúúú... a Comunicação
Empresarial no Rio de Janeiro

Paulo Cezar Guimarães*
 

Lembro bem das minhas primeiras matérias em jornal. Eu não sabia aquelas coisas de asdfgçlkjqwertpoiuy e batia apenas com dois dedos; como bato, ou melhor, digito, até hoje. Quando errava, era um tal de xxx pra lá, xxx pra cá. Tudo com o dedo indicador, naquelas antigas Olivetti, muitas vezes em teclas destampadas. Como doía o dedo e como eu jogava laudas fora! Um jardim de laudas amassadas é o que lembrava o que ficava em torno da minha mesa. Na antiga redação do jornal O Globo, antes da era da Informática, tínhamos que escrever as matérias com 3 cópias - uma para a pauta, outra para a agência Globo e outra para a Rádio Globo. Usávamos papel carbono e borrei muita manga de camisa por causa daquela tinta azul. Tinha gente que colava lauda sobre lauda só para não reescrever o texto. E uns que até usavam borracha escolar.

Quando fui trabalhar na Souza Cruz, conheci a máquina de escrever eletrônica. Aquela azulzinha, de esfera, da IBM. Era maneiro (como diria minha filha), tri-legal (a página é de circulação nacional)! Mas o que eu gostava mesmo era daquela tremidinha que a máquina dava quando eu botava para funcionar pela manhã. Foi lá também que me apresentaram a lapiseira Pentel P 205, minha amiga inseparável até hoje.

Hoje tudo é diferente. Se a gente "erou", é só pegar o mouse, clicar entre o r e o o e pôr o "r" que está faltando. E fica errou, né? Se quer apagar um texto, é só cobrir com o cursor e apertar a tecla "delete" (era para apagar este trecho para ficar mais original, mas como vocês iriam entender a minha gracinha?). E a gente ainda usa o computador para ouvir música - como estou fazendo agora, ao som de Aida, de Elton John e Tim Rice. Mas, por outro lado, estimulou a proliferação de "jornalistas" e "designers", que passaram a saber que fonte não é nascente de água, coluna não é pilar cilíndrico e itálico não é dialeto italiano. Lembro do clássico livro, O Papel do Jornal, de Alberto Dines.

Mas o que que isso tem a ver com Comunicação Empresarial? - perguntarão os mais céticos. Pois é este o problema. O Paulo Nassar pediu este artigo já há tanto tempo e eu não consigo escrever direito; do jeito que eu quero. Iniciar um texto sempre foi difícil para mim. Nunca gosto do que escrevo. Escrever para coleguinhas é muito mais difícil ainda. Ainda mais que dei uma navegadinha e constatei que mais de 20.000 pessoas já acessaram a página da Aberje. O que escrever? Como atrair a atenção do leitor e não ser vaiado? O que eu posso falar de diferente, de interessante? Afinal: não é tudo isso que eu cobro dos meus alunos na Faculdade?

Naquele mesmo dia encontrei com o Guilherme Duncan, gerente de Assuntos Externos da Esso, e tentei dividir a responsabilidade: "O que você acha, Guilherme?". "Tente traçar um paralelo entre a comunicação no Rio e em São Paulo", sugeriu ele. Sei não, sei não; não quero fazer um artigo pessimista. Dia seguinte, liguei para a Marilene Lopes, da Xerox, e pedi nova ajuda. Lembrei um almoço em que o Carlos Salles, big boss da empresa, respondendo àquela célebre pergunta sobre como estão as coisas, me surpreendeu positivamente: "Na Xerox está sempre tudo bem.". Hoje, alguns meses depois, lemos nos jornais que a Xerox está demitindo gente. Mas quem me conhece sabe: não sou baixo astral; quero escrever um artigo positivo.

Antes de trabalhar em Comunicação Empresarial, fui repórter assistente-de-editor (era assim mesmo. Acho que para dar mais charme) de O Globo; um dos maiores salários da redação, com menos de 30 anos de idade. Comi muito sanduíche de pernil no bar do Felipe (quem trabalhou no Globo conhece). Fui convidado pelo Vitor Sznejder para ganhar quase o dobro na Souza Cruz; fora os benefícios. Foi onde aprendi a tomar vinho, com o Reinaldo Paes Barreto, gerente de Relações Externas. Antes do Reinaldo, adorava Moscatel e Chateau Duvalier Rosé; hoje, sei que só servem para "flambar bidê", como diria meu espirituoso amigo. Me permitam citar outro Rei, o Roberto (Carlos)?: "... belos tempos (ou seria velhos tempos?), belos dias...". ...mas como hoje meus domingos são doces recordações... Telefonei, no dia seguinte, para a Terezinha Santos, da Rio Gás, e ela lembrou de certos coleguinhas que têm mania de desmerecer o trabalho dos assessores de Imprensa. Coisa antiga. Tô fora! Terezinha sugeriu, então, falar sobre o novo perfil do profissional de Comunicação. E imaginei escrever uma espécie de Blur (aquele livro da moda, de Stan Davis e Christopher Meyer) da Comunicação Empresarial.

Dia seguinte, tenho uma reunião com o Marcos Trindade, da FSB Comunicações, uma das maiores agências de Comunicação do País. Nem precisei perguntar como estão as coisas. A saudação que recebi de Chiquinho Brandão, dono da agência, e o movimento de entra-e-sai na recepção do luxuoso conjunto de salas em Ipanema não deixou dúvidas: Crise? Que crise?. O entusiasmo era contagiante. Peguei um exemplar da Exame para me sugestionar ainda mais e me preparei para escrever. Só faltou cantar "Eu te amo meu Brasil, eu te amo..." Mas e o telefone? E o telefone, Paulo? Nada contra a Telefonica (sem acento), a Telemar ou a ATL. É que ele não pára de tocar. Tenho que ir a um cliente. Amanhã continuo.

Pego um táxi, atravesso duas esquinas e minha falta de inspiração é estimulada novamente. Guardas de trânsito escondidos nas esquinas com o bloco de multas na mão e o apito no bolso. No Aterro do Flamengo, o radar exerce marcação cerrada contra tudo o que se move acima de qualquer enta que seja. Por toda a cidade, pequenos caminhões disfarçados de reboques carregam tudo o que vêem pela frente; se bobear até bicicleta. É a Indústria da Multa do Prefeito Conde que assola, como diria Stanislaw Ponte Preta, nossa "cidade ex-maravilhosa", como diria Belchior.

No sábado de manhã, ao sair da faculdade, Maurício Menezes liga para o meu celular e me convida para ir a Teresópolis assistir ao seu show sobre as Mancadas da Imprensa, na Casa de Portugal. Boa idéia. Chegando lá, me surpreendo torcendo pelo Flamengo e até comemorando o único gol contra o Madureira, marcado quase nos descontos, no segundo tempo. O que eu não faço para ver a tristeza do Homem das Cavernas, Eurico Miranda!

Morro de rir, como das outras 20 ou 30 vezes que assisti ao show. No final, me delicio saboreando um Dão, meu vinho predileto, ao lado de Maurício, seu filho Bruno, seu sócio Luis, e o simpático anfitrião, o presidente do clube. Uma bela noite portuguesa, com certeza... Sento no laptop, ou melhor, ao laptop, mas nada de inspiração. Também, depois de tanto vinho!

Dia seguinte, me preparo para uma das coisas que mais gosto na vida, além da minha família, do Botafogo, das aulas na Faculdade, do Oswaldo Montenegro, e de Filé a Parmegiana: vou andar e correr na estrada. Entro na Rio-Bahia, após subir 2 kms de ladeira, e decido enfrentar sozinho um antigo desafio: os 7 quilômetros que separam o bairro Meudom do bairro Alto do Soberbo, na chegada da serra. Alguns minutos, começo a dar uma corridinha leve e um carro pára um pouco à frente, com dois sujeitos no banco dianteiro. Suo frio - literalmente. "Pronto. Vão me seqüestrar, achando que sou algum veranista rico!". Penso até em voltar, sair em disparada que nem um desesperado, pedir carona a algum motorista de caminhão; sei lá! Quem sabe não aparece o Antônio Fagundes! Lembro de uma outra vez em que senti sensação semelhante. Fui jantar com o presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José de Sousa (é com s mesmo) e Silva, em um restaurante de luxo no Leblon e, ao final, ele me ofereceu carona. Morri de medo. O cara, que já foi seqüestrado uma vez, tem um BMW. Eu, que também já tive uma BMW, ou melhor, uma BMV (Brasília Muito Velha), pensava durante o trajeto: "vão seqüestrar a gente, pedir uns 200 mil dólares pelo resgate dele e 100 reais pelo meu". Pior é que nem teria essa grana, pois era final de mês e a conta no banco, para variar, estava no vermelho.

Antes de conseguir cumprir meu desafio, me decepcionei um pouco ao constatar que eu não era o único "atleta" naquela estrada deserta. Um cara desses de porte atlético, sem barriga e, pasmem!, sem camisa, no meio da neblina, me ultrapassa. Parecia o Renato Gaúcho e devia estar a uns 100km. Ainda penso, meio com um ar de despeito: se fôsse lá no Rio, ele estava ferrado, ia ser multado por excesso de velocidade. Quando vejo a placa "A 500 metros Soberbo, entrada para Teresópolis", imagino, triunfante, um comitê de recepção com direito àquelas fitas de chegada que a gente vê nas provas de corrida e, quem sabe, uma garrafa de champanhe no pódio. Afinal, pelas minhas contas, tirei segundo lugar.

Após alguns minutos de alongamento, descanso e contemplo a bela vista da Baía de Guanabara. Depois, entro, vitorioso, num ônibus em direção ao centro. Após quase duas horas de atividade física, queriam o quê? Temo que passe algum amigo e depois me diga, em tom bem debochado: "é assim que você diz que sai para correr? De ônibus?". Desço, doido para tomar um suco de manga ou de maçã, e constato que a cidade está lotada - Teresópolis cheia é coisa rara. Ainda bem. Que todos continuem indo para Búzios e Angra dos Reis. São jovens que participam de um Congresso religioso e tomam de assalto (no bom sentido) restaurantes e bares. O suco fica para outro dia.

Lembro que em outras épocas, a Vale do Rio Doce e o Banco Nacional tiveram verdadeiras redações, ou melhor sucursais, para produzirem suas publicações. Gente do mais alto nível: Paulo Romeu (um de meus ídolos), Ana Maria Mandim, Marco Antonio Gay (é sobrenome mesmo), Mário Rolla (tenho cada amigo, né?), o saudoso e querido Lanning Elwis (meu ex-sócio e uma das figuras mais irreverentes, criativas e inteligentes que conheci na vida) e outros. Na Souza Cruz mesmo, tivemos uma pequena redação com 7 profissionais, fora o Vitor e o Baron (aquele que tem nome de dono de cantina italiana: Wilson Baroncelli). Hoje tudo tem que ser "baratinho" e o número de inscrições no Prêmio Aberje Rio diminuiu bastante.

Agora, estou aqui, escrevendo, finalmente, o artigo do Paulo Nassar. O que escrever? Lembro, pretenciosamente, do saudoso João Saldanha que, em sua coluna sobre futebol, muitas vezes, não escrevia sobre futebol. Dou uma parada, leio a coluna do meu amigo Renato Maurício Prado e os artigos do Luis Fernando Veríssimo e do João Ubaldo Ribeiro para ver se me inspiro, mas desisto.

Ainda mostro para alguns amigos. "O artigo mostra que você é muito bem relacionado", diz Claudia Manhães, minha repórter preferida. "Me pareceu um pouco Esta é a minha vida", sentencia Guilherme Duncan. "PC, esse texto está a sua cara: velho repórter, excelente texto. O que estraga é a barriguinha e a modéstia. No fundo, você é um bom rapaz do Grajaú - como já não se fazem mais - e meu grande amigo. Gostei", me presenteia, via e-mail, Vitor Sznejder. Decido, então, enviar estas mal traçadas linhas.

Vou ficar devendo o artigo sobre a Comunicação Empresarial no Rio, Paulo! Se reler mais uma vez, vai crescer ainda mais. Dá para dar uma copideskada?
 

*Paulo Cezar Guimarãesjornalista e professor universitário, 22 anos, digo, 46, é sócio-diretor da Portafolio Comunicação, no Rio. Endereço eletrônico para elogios, críticas ou envio de vírus via Internet (para os que detestarem): pcguima@openlink.com.br.

  

   

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