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Globalização: causas e efeitos

Ruy Martins Altenfelder Silva*

Rubens Ricúpero e Norman Gall, em estudo publicado no "Braudel Papers" (1997) Globalismo e Localismo, de forma precisa definem a globalização como o processo econômico de unir nossas vidas.

No centro de debate sobre globalização está a ameaça da competição.

O tema é apaixonante e desperta reflexões. Até que ponto a economia mundial está globalizada? Quais os efeitos e as conseqüências dessa globalização?

É interessante consultar os indicadores de comércio exterior e da movimentação internacional de capitais, para termos uma idéia do grau de globalização. Os números revelam dados surpreendentes.

O primeiro é que os citados indicadores cresceram fortemente nos últimos anos, o que poderia significar que a globalização da economia cresceu.

O segundo dado é que, em termos relativos à produção mundial, o atual nível de globalização não é maior que o registrado no final do século 19 e princípios do século 20. Calcula-se que antes da 1ª Guerra Mundial os investimentos estrangeiros eram da ordem de 9% da produção mundial e em 1991 foram de 8,5%.

Quanto ao comércio exterior sobre a produção nacional, o percentual na Alemanha, França e Reino Unido registrava em 1994 os mesmos níveis de 1913! No Japão, era muito mais baixo e, nos Estados Unidos, mais alto.

Tais comparações não permitem concluir se o grau de globalização é alto ou baixo, mas apontam para um fato bem mais intrigante e sugestivo: na época em que o mundo alcançou um nível de globalização da economia semelhante ao que tem hoje, iniciou-se um avanço das políticas protecionistas e do controle do movimento de capitais que perdurou até 1945 e incluiu duas guerras mundiais.

Convém analisar também os efeitos que o processo de globalização vem causando à economia neste final de século. O primeiro ponto a destacar é que na segunda metade deste século, nos países mais ricos, o crescimento veio acompanhado de uma redução das desigualdades, como conseqüência da criação de melhores empregos e de maiores oportunidades de progresso para os trabalhadores. Entretanto, neste final de século 20, não é mais o que vem ocorrendo. Nos Estados Unidos a renda dos trabalhadores manteve-se estática, aumentando a desigualdade e a pobreza. Na União Européia, o salário médio cresceu ligeiramente, porém aumentou muito mais o número de desempregados.

Não se pode afirmar com segurança que tais fatos possam ser atribuídos ao aumento do comércio exterior ou ao movimento internacional de capitais. Nos países desenvolvidos aumenta a quantidade de postos de trabalho vinculados às exportações e as empresas multinacionais mantêm a maior parte dos empregos. Desemprego e desigualdade podem ser causados, em parte, pelos avanços tecnológicos (o que será transitório), pois o aumento de produtividade derivado da utilização de novas tecnologias acarretaria aumento de produção e do emprego.

Estudos do Banco Mundial indicam que a transferência de capitais e derivados dos países desenvolvidos para os países emergentes aproxima-se de US$ 320 bilhões por ano, ante menos de US$ 50 bilhões na média anual do pós-guerra.

A verdade é que temos de encarar a globalização de frente, aproveitar os seus aspectos positivos e neutralizar os negativos. Uma das idéias que devem ser consideradas é utilizar parte dos benefícios obtidos pelas atividades econômicas e setores sociais favorecidos para ajudar os prejudicados.

Os países desenvolvidos devem atuar para evitar que a globalização cause fraturas internas, pois isso acarretaria também confrontos entre eles e com os países menos desenvolvidos.

* Ruy Martins Altenfelder Silva é advogado, presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e diretor-geral do Instituto Roberto Simonsen (IRS), da Fiesp/Ciesp.

  

  

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