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COLUNAS


Renato Delmanto
renato.delmanto@vpar.com.br

Gerente Geral de Relações com a Mídia do Grupo Votorantim, cursa atualmente o Mestrado em Comunicação na Faculdade Cásper Líbero, instituição na qual é professor. Jornalista formado pela PUC-SP, possui mais de 20 anos de experiência em mídia impressa (Veja, Folha e JT), televisão (Cultura e Band) e internet (Editora Globo e America Online). Desde 2005, especializou-se em comunicação corporativa, tendo atuado na CPFL Energia e Máquina da Notícia.

 

Transparência é fundamental

              Publicado em 13/12/2011

Quais as lições que se pode tirar quando uma empresa não conta toda a verdade sobre determinado assunto? Casos recentes nos setores de petróleo, bens de consumo e varejo são emblemáticos. Merecem ser analisados e suscitam reflexões sobre o trabalho de comunicação corporativa. Muitas vezes, a “culpa” por esses episódios é delegada à área de comunicação. Mas não: a culpa é de toda a companhia, que optou pela falta de transparência no seu relacionamento com a sociedade – e sofreu as consequências dessa opção.

A sociedade vem se transformando de forma incrivelmente rápida nos últimos anos, o que exige uma nova postura e uma quebra de paradigmas por parte das empresas. No passado, eram poucos os “atores” que contracenavam com a empresa no seu ambiente de negócio, em sua maioria restritos à cadeia de produção e com estruturas hierárquicas bastante similares. As regras de atuação no mercado eram estáveis e conhecidas.

Como bem definiu em palestra recente o executivo da área sustentabilidade da Fibria, Carlos Alberto Roxo, essas regras hoje são mutantes, as empresas contracenam com inúmeros atores, que estão inseridos em uma sociedade conectada em rede. Diz ainda que esses atores possuem estruturas totalmente diferenciadas, que exigem das empresas “tradicionais” compromissos e respostas às novas demandas sociais e ambientais, demandas de repercussão global.
A maneira mais eficaz de responder a essas novas demandas e desafios impostos pela sociedade é agir com transparência. Aqui se ressalta o papel do comunicador. É ele o principal guardião e difusor de uma cultura de transparência dentro das organizações. Pois a transparência da comunicação gera credibilidade e reputação, e esses são os maiores patrimônios que um profissional de comunicação corporativa pode ter.

Junto ao público interno, o comunicador deve ser visto como um “advisor”, um especialista nos aspectos ligados à comunicação (entendida aqui no seu sentido mais amplo). Ele deve ser capaz de dar consultoria de alto nível, apoiar de forma eficaz e rápida a tomada de decisão, contribuir para agregar valor à companhia por meio de uma visão estratégica do negócio e zelar pelos aspectos ligados à sustentabilidade.

Perante o público externo, notadamente os formadores de opinião, o profissional de comunicação corporativa deve ser visto e percebido como ético e confiável, como alguém que prioriza a informação de qualidade e que nunca atua de forma dissimulada. A credibilidade do responsável pela comunicação de uma empresa junto a ex-colegas nas redações contribui para a reputação da própria companhia. De certa forma, ele “empresta” o seu prestígio pessoal à organização para a qual trabalha.

Isso porque credibilidade e reputação não são como um ativo que se pode “comprar” ou “conquistar” quando se deseja. É uma espécie de “poupança”, um patrimônio que se vai acumulando ao longo do tempo, aos poucos.

Valor inegociável

O profissional de comunicação deve estar ciente de que ninguém gosta de ser enganado, nem tampouco de ser informado apenas parcialmente sobre o que está de fato ocorrendo. Para o público interno, as conseqüências de uma comunicação pela metade podem ser frustrantes. O funcionário que descobrir a “verdade” por qualquer meio que seja (e perceber que esta verdade é distinta da qual imaginava), verá rompida a relação de confiança com seu empregador – relação essencial para seu engajamento e para a consolidação da cultura organizacional.

No relacionamento com os públicos externos formadores de opinião, o resultado de uma comunicação propositalmente parcial, tendenciosa ou camuflada pode ser desastroso. Esses públicos, notadamente a imprensa, entendem perfeitamente que determinadas informações não podem ser divulgadas – por conta de limitações legais, por exigência dos órgãos reguladores ou por razões estratégicas do próprio negócio. O problema é que existe uma barreira ética entre a postura de não estar autorizado a comentar determinado assunto e a decisão deliberada de sonegar, mentir ou manipular informações.

Determinadas companhias podem até considerar tênue essa linha que separa os dois comportamentos. A questão é que a ética é um valor inegociável.

No caso do profissional de comunicação, a firmeza de propósitos e a ética devem vir em primeiro lugar na sua escala de valores. Sua reputação e credibilidade dependem da confiança conquistada ao longo de sua vida e de sua carreira perante todos os seus interlocutores.

A convivência desse profissional com uma empresa pouco ética pode macular sua própria reputação, pode contaminar sua credibilidade no mercado. Por isso o profissional deve vincular sua “marca” pessoal a uma boa marca empresarial – uma companhia que tenha valores alinhados aos seus e uma postura eticamente irretocável. Afinal, transparência e ética andam de mãos dadas.

Claro que defender uma política de transparência na empresa pode ser uma missão nada fácil para o comunicador. Em muitos casos, ela implica em uma mudança cultural, que considere a prestação de contas à sociedade como algo mandatório para o desenvolvimento dos negócios. É um dos principais desafios do comunicador.

Carlos Alberto Roxo define a sustentabilidade não como um alvo a ser atingido, mas como “uma estrada com um final que se desloca continuamente”. O importante, diz ele, é a empresa não se desviar desse caminho. 

Temas sensíveis


Agir com transparência significa abordar qualquer assunto, tratar dos chamados “temas sensíveis”, encarar todos os problemas. Significa assumir no discurso institucional que os problemas “existem”.

Muitas vezes, nos “media trainings” e preparações de porta-vozes para entrevistas, nós, especialistas em comunicação, recomendamos que os executivos evitem frases do tipo “o problema é que...”, ou “quando temos esse tipo de problema...”
Como se, numa espécie de exercício neurolinguístico dos porta-vozes, esse problema deixasse de existir. Eventualmente essa postura pode até dar bons resultados na mídia. Mas será correto fingir que o problema existe?
Melhor optar pela transparência. Sempre. A sociedade agradece.


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