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Paulo Nassar
diretoria@aberje.com.br

Diretor-Presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-doutor pela Libera Università di Lingue e Comunicazione, Milão, Itália. Integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/USP). É Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN ECA-USP). Autor de inúmeras obras no campo da Comunicação.

No calor do tempo, faz-se a história

              Publicado em 19/12/2009

Copyright Terra Magazine - 19/12/2009
 


Saturno devorando os seus filhos, de Goya

A expressão responsabilidade histórica foi fortemente lembrada e repetida em Copenhague, no âmbito das operações de relações públicas sobre as discussões sobre um novo tratado climático global. Depois dos slogans marqueteiros da responsabilidade social e da sustentabilidade, empresas e governos nada comprometidos com as causas ambientais, a responsabilidade histórica esteve nos discursos de Sarkozy e Lula.

Responsabilidade histórica é o conjunto das responsabilidades corporativas. Ou seja, a comercial, a ambiental, a social e a cultural, ao longo da história da organização - que examino em meu livro Relações Públicas: na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações, lançado em 2007. Mais do que tudo, a responsabilidade histórica é a forma como a sociedade vê e se relaciona com temas como o tempo, a memória, a vida e a morte, questões que as discussões do tratado climático de Copenhague colocaram na mídia global, de maneira doutrinária e filosófica. Nunca a vida e a morte foram discutidas em tal dimensão: bilhões de humanos discutem temas que uma dúzia de gregos geniais passou a vida debatendo.

O tempo, como nosso pai e algoz, está implícito na discussão do nosso destino diante das questões que envolvem as conseqüências do aquecimento global. Francisco Goya, na sua alegoria pintada entre 1821 e 1823, que retrata Saturno devorando os seus filhos, o tempo - Cronos para os gregos e Saturno para os romanos - é representado como o ministro da morte. O que nos lembra a irreversibilidade do fim e sua contraposição, quando o tempo é pensado de maneira cíclica, que aponta para um eterno recomeço: a visão milenar dos dias e estações que sempre voltam e de uma humanidade que tem os seus mortos substituídos pela eterna juventude.

Homero expressa, em um trecho da Ilíada, o pensamento grego acerca do tempo cíclico e suas renovações: "Tal o nascimento das folhas, tal o dos homens. Há folhas que o vento espalha por terra, mas a floresta potente produz outras, a Primavera retorna. O mesmo sucede aos homens: nasce uma geração, a outra finda" . O antigo desenho circular da serpente que morde o próprio rabo, representa também o atributo desse tempo que repete eternamente suas criações, uma idéia de tempo que tranquiliza porque promete outras existências e a possibilidade de resgatar vidas estupidamente perdidas ou esvaziadas pela falta de entusiasmo ou rumo.

Em nossos dias essa idéia entrou em crise, assim como as idéias de Deus e do progresso inevitável, De tal forma que, ante os desastres anunciados, principalmente os ecológicos, ficamos simultaneamente sem mitos e sem ciência. Restam-nos as toneladas de dióxido de carbono produzidas na passagem para o ano de 2010 nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e outras, como exemplos de má responsabilidade histórica. Feliz 2010.

¹A Ilíada. Homero.Editora Europa-América, pág.92, 1999


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 878

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