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COLUNAS


Eloi Zanetti
eloi@eloizanetti.com.br

Foi diretor de comunicação do Bamerindus e de marketing de O Boticário. Consultor e palestrante em marketing, comunicação corporativa e vendas. Publicitário premiado nacional e internacionalmente. Ambientalista, um dos idealizadores da Fundação O Boticário, conselheiro da SPVS e da TNC. Autor de vários livros – vendas, marketing e infantis com edições no Brasil e países hispânicos.

Lamentações

              Publicado em 29/11/2013
Li certa vez um artigo com o título Lamento Borincano, baseado em uma canção latina que conta a história de um campesino que vai todo feliz para a cidade vender suas mercadorias. No caminho faz planos maravilhosos para a família e para o lugar onde vive, já contando com os belos resultados das vendas que conseguiria. Porém, não vende nada, a canção não explica o porquê do seu fracasso como vendedor. Volta melancólico, lamentando a falta de sorte. Ou seria sua incompetência em colocar produtos no mercado? A música pode ser ouvida no YouTube, inclusive cantada por Caetano Veloso e é de uma choradeira só. O autor do artigo discorre sobre a atitude dos latinos americanos que frente às dificuldades da vida gastam tempo e energia em intermináveis lamúrias a espera que um poder maior resolva seus problemas, em vez de focar na solução. Poderes representados por governos, instituições, políticos ou entidades sobrenaturais. 
 
Há pouco tempo deparei-me com um ditado popular muito utilizado nos países escandinavos: “Não existe tempo ruim, a roupa é que é inadequada.” Procurei saber mais sobre o conceito desta expressão e descobri que ela quer dizer: adapte-se às condições do tempo, esteja ele congelando ou não. Isto é, foque na resolução dos seus problemas em vez de ficar em casa reclamando que lá fora está frio. O povo nórdico não fica se lamentando da difícil vida que leva, sabe que se não resolver seus problemas de forma prática poderá morrer de frio, então vai à luta com determinação, não se importando com as condições adversas.
 
Por outro lado, nós latinos, com toda a natureza a nosso favor - sol, água, terras boas, recursos minerais abundantes e rica biodiversidade -, gostamos de ficar lamentado nossas dificuldades e pouco fazemos para resolvê-las. Lamúrias parecem fazer parte do nosso DNA. Lamentar-se ao invés de agir é uma forma de viver, um alívio psicológico contra as mazelas do dia a dia. Comemos o fruto proibido, fomos expulsos do paraíso e agora só nos resta reclamar. A choradeira latina acaba de transformando em uma espécie de bálsamo, uma justificativa para não se fazer nada, um convite à preguiça e ao deixe estar que tudo se resolverá sozinho.
 
Em quase todas as empresas em que presto consultoria ou realizo workshops, escuto tanto por parte das diretorias quanto dos funcionários - geralmente vendedores - uma ladainha interminável de lamentações e choros para justificar a falta de ação. Os culpados são sempre os outros: vendedores reclamam falta de apoio, de amostras, de bons planos para negociação, de entregas, de bons produtos e da atenção dos seus supervisores. Patrões reclamam falta de compromisso, de interesse no trabalho e de agressividade nas abordagens de vendas. Administradores reclamam falta de equipamentos, de processos, de sistemas e de verba. Tudo vira um grande muro das lamentações, sem que ninguém aja para se fazer algo de útil e prático em prol das causas comuns. 
 
Costumamos apresentar desculpas para tudo: Não fui ao curso porque estava chovendo. Não estudei porque não tive tempo. Não arrumei tal coisa porque o homem não veio.
 
Não fizemos a assistência ao cliente porque não tínhamos a peça. Não arrumamos a estrada porque não é da nossa responsabilidade. Joguei lixo no chão porque não tinha recipiente para colocá-lo. É sempre assim, vemos as coisas erradas na empresa, no governo, na polícia, no trânsito, nas escolas e, em vez de agir para solucioná-las nos entregamos às lamentações, carpideiras do cotidiano.
 

Dou uma sugestão: que cada empresa tenha a sua “sala das lamentações” onde o funcionário poderá ir para chorar à vontade sobre os seus problemas. Depois com a alma limpa retorna ao trabalho para revolver o que tem que ser resolvido sem reclamação. 


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 9332

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